quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sinto que

meus ouvidos estão entupidos
das palavras que ouço, das mentiras que escuto,
meu peito está cheio
do ódio que sinto, das lágrimas que enxugo,
meus olhos estão secos
do vento que uiva, do ar que passa,
meu pulmão é vazio
de tudo que sopra, da coisa que inspira,
meu ser está morto
das velhas vontades, das verdades que engulo,
minha boca está certa
das linguagens tão retas, dos sintomas mais nulos,
minha mente lateja
as idéias que creio, os medos que crio,
minha pele está seca
dessa água que bebes, dessa tua saliva,
minha boca tem sede
deste teu órgão rijo, desse teu sabor puro,
meu ventre tem vida
a criança indevida, esse filho maduro,
minha mente lamenta
as loucuras que vivo, inconseqüencias que fujo,

a realidade é plena ilusão dos sentidos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não grito.

Respirar teu sopro antinatural que agora me faz bem, mal, por querer uma natureza de pensar e ser além dos meios, mas a síntese do meu sentir é medo, ou pudor - dos quais abro mão, mais do segundo que do primeiro: mira que as pernas tremem, a paz no corpo que se sacia, mas nunca se basta, há ainda a tentativa do reorgasmo após o gozo, do grito calado rasgado, do torpor do segundo que antecede o segundo esporro, quando os cabelos caem, os braços doem, os fantasmas saem, e ainda que amaciando a carne e o peito, reverbera a última emoção como no começo, mas logo é fim: que se olho em teus olhos há nuvens negras, há mares fundos, há beijos secos, refletidos pelo que há desse seu sincero úmido, o que esperava me dizer ser, mas a superfície de mim é infinita chada, que se estende ao longe, extensa e rasa não muito desliza, preocupada em não tocar a linha onde o céu encontra, é horizonte - esse limite intransponível do lugar donde se ouvem verdades, quase sempre ofensas; não que eu quisesse mentiras, antes de ti eu queria o silêncio, que  para mim é fácil, mas é que há algum tempo eu não me suporto, e hoje por isso, eu queria o grito: mas como sempre covarde, respiro e calo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vontade & vício.

Se até nem as coisas podem existir somente em si,
Não vou ignorar que minha vontade é o vício de ti.
O amor não nasce nem se encerra em mim!
Tudo que é leve e graça o tempo leva sim...
Mas teu peso fica como um mar de sentido amplo,
Atmosfera em que cego me lanço,
Morrendo de medo e de vontade:
Você, meu vício.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eu, como sempre.

Quando movimento assim os dedos na ânsia de me satisfazer - porque aparentemente é só isso o que eu quero - em palavras nessa superfície tão desde sempre conhecida e devassada por cores vivas, o sopro pára e espera só a ação que não é dele, de colocar em superlativo ar no pulmão, que se abre mas não inteiro - que a mediocridade atinge também aos orgãos internos - e quando respiro inspiro expiro vejo tudo ficar claro, numa tontura que faz girar o olhar aos quatro horizontes. Percebo então que tudo o que eu escrevi é nada além de explicitamente eu, mas disfarçado, nada de sincera verdade, é atitude visceral do que eu queria ser mas só sou por dentro do que em mim fala mais alto: essa minha mente que na maior parte do tempo só pensa e só sabe falar de si, por ser tão vazia de outras dimensões - do real, do mundo, dos outros, do nada. O impulso ainda vem, então continuo: sabendo que as palavras são tão frias e em todos os aspectos iguais ao meu próprio rosto, são imagem, é o que se mostra e esconde tanto. E que do mesmo modo que quando ando, minto minha natureza simples, parecendo coisa vivida, porque o complexo é tão mais instigante. Recrio a mim mesma de jeitos que atraiam mais olhares atentos, e funciona, mas o que eu queria ver agora era a morte de todos os personagens, sem exceção. Porque o sentimento de angústia não pára, por não conseguir dizer a verdade, por mais que eu admita a invenção. Tudo sempre foi sincero, o que não me deixa ser é esse eu que grita o tempo todo no meu peito e que permito falar mais alto, porque sempre foi assim - isto também pode ser uma pergunta - e nunca me vi no espelho, nem nunca voz nenhuma veio me abrir os olhos e fazer ver o que tão claramente repudio agora: que além da vaidade, a realidade d'eu em mim mesma é insuportável.

sábado, 20 de novembro de 2010

Se forma efêmera não há fato.

Fecha a boca, não diz mais nada, que tua palavra vai negar a minha forma. Se estanco no grito teu pulsar veneno a me olhar nos olhos querendo ver mais fundo e transformar-me em nada mais palpável que a coisa por ti inteligível, te calo sim neste instante, que eu não quero ser encaixada nos livros da tua estante, sim ser firme incógnita, sem ser imposta, ser maldeus. Se o meu cigarro tá na mão que me mata o gosto, o verbo, o ato e a forma, levo à boca com a consciência calada do que certamente será a minha natureza em breve porque só à mudança dicotómica da vida me permito. O contido nas gotas suspensas do teu éter que não é líquido, que não é sólido, embora queira e tente não desmancha minha forma concreta, dele foge fugaz. O muro não cai, nem cresce, a vida não flui, e esquece, tudo passa entre nós e vai, nunca haverá lembrança desse tempo das aves que vem confortar o peito trazendo a imagem sonora daquilo que não se vê quando preso em revolução dos pensamentos: a luz do dia clarear este lugar que é tão belo e é perigo a dor de se ver sem os dias de pó desse barro daqui - e nos vemos. Por isso dói, que eu me veja a querer me portar como coisa sólida que vê e vive e saber que se espalham por sua natureza atroz a ambição e a indelicadeza de prever a minha forma e querer que eu seja nuvem a qualquer custo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Análise humana.

Como eu posso melhorar esse vazio? Quadras curtas não vão ajudar esses quarteirões internos, sempre vazios à noite, desertos.  Não querem entrar, pedi imposto caro demais: se dar sempre é risco, que ninguém quer ter que correr. Risco maior de se envolver e se perder, então não saber voltar. Então não querer voltar. Se perde em mim, me acha. É um labirinto o que fiz aqui? Um caminho que ofusca os olhos com a luz do túnel, mas que não leva nunca ao fim. E se sua deriva me explora por todos os pontos, sinto que permeia entre mais que arranha-céus, que em vista panoramicamente elevada me vê a malha que confunde, que reprime, que exprime o que eu sou por dentro: organicamente anti-natural, naturalmente não-humana, perfeitamente anti-social - de grandes percursos, caminhos marcados e pontos de convergência únicos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

agradeci ment ira

Talvez merecesse também, por tudo o que hoje sou:
corpo destruído,
alma despedaçada,
moral inexistente.
Que o que restava em mim de segredo tu me fizeste gritar bem alto, enquanto tuas mãos devassavam
minhas vestes,
meus limites,
minha calma.
E se um dia só resolvi partir - pra longe ainda lembrar, que esquecer não posso - eu o faço:
com tua sombra no meu passo,
teu peso no meu ombro,
no meu rosto o teu cansaço
- da tristeza da perda que é também minha, porque
a voz eu calo,
o grito eu sopro,
o amor engasgo.
Que agora o que me guia não é mais nada que importe
a palavra falada,
a música composta,
o silêncio entre as notas.
Porque a dor chegou depois, à noite, e não foi nunca embora.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Falar em formas.

Quero dizer as palavras certas, mais do que isso: eu preciso, se é que posso, dizê-las assim e sentí-las saindo da boca com propriedade suficiente a saber o quanto se assemelham a uma ou outra forma circunscrita em infinitas outras, ou entrelaçadas, lineares ou não, duas dimensões ou mais, mas menos do que aquilo que a minha mente pequena não consegue conceber, que são ou não uma e outra e que trazem conforto por serem macias de ouvir ou porque o saber é preciso - e é uma ilusão, ou é que somos pequenos demais pra ficarmos no silêncio, sozinhos com o que há em nós e incomoda tanto, e é vulgar. É esse o ponto na fenda do espaço-tempo que eu não diria ser partida, mas de parada, quando é preciso parar, porque uma hora é preciso, mas essa necessidade, eu digo que surgiu bem antes.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Último degrau, última gota.

À noite nada mais importará, que terei de contar à todos que o teu sangue pingou e escorreu na escada, vazou até a última gota, saiu da artéria e da mão que cortou o pulso - que como tentativa desesperada tentou também contra si mesma, apertando com as últimas forças de coragem a lâmina, sabendo que assim talvez a vida te deixasse logo, que a tua alma já era tão antes ferida. Mas o corpo foi que pingou, num ritmo constante lento. Devagar suficiente pra que tu visses a vida se esvaindo, o sopro deixando o corpo e sentisse até certo arrependimento, mas uma sensação de alívio pela coisa planejada e então cumprida, pelo menos uma vez na vida, quem sabe aprende e pratica talvez também outra vez na morte. Teu sangue pingou poças nos degraus de cima, que vermelhamente bonitas densas tornavam-se muito grandes para os vinte e oito centímetros de piso e tinham ânsia de descer, esperando pela próxima gota que mesmo depois de expulsa e morta continuava promovendo movimento, um movimento puramente físico explicado pela energia não mais vital e sim cinética & mecânica, sem energia nenhuma da coisa que é bela, da coisa é que viva. Vem o pingo que num segundo faz na superfície vermelha e densa suas ondas e leva toda a poça a descer por um fio até o degrau de baixo e depois o próximo e o outro, o declínio do próprio ser depois da vida, que desceu lavando toda a tua casa abaixo, junto com a teu sangue morto, e tua vida pouca que ainda precisa pulsar um tanto mais pra expulsar o que nela ainda há de si e que se diz insuportável, insustentável mais, pras pernas cansadas que desejavam repouso, pra face forçada e rosada que esperava ser pálida e pro coração, que há muito parou de bater direito. As últimas gotas, não fazem diferença mais, a vida morta já chegou no último degrau, desceu depressa de você no alto do lugar, pária vida, desprezada, agora deixa a vida de si, serás nada, serás passado só, serás morta, enfim os dias nunca mais chegando de manhã com o Sol e inconvenientes vindo bater à tua porta.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ele espera.

E o tempo preso no espaço pleno.
Diligente, tem de o futuro prover.
Impotente, dependente, inquieto.
Que hoje, eu não tenho pressa...

domingo, 26 de setembro de 2010

Despeço.

Aspergi perfume em tua face. E com a face plena e perfumada então, me tu deixaste. Queria por uma última vez te vestir antes dos bailes - e te despir depois. Mas agora não seria meu o teu pensamento, porque nunca foram meus os teus passos nem giros, mas de todas as outras, sim, porque a minha dança era outra, muito mais livre, e tu não sabias ser assim. Naquelas noites, os teus olhos cegos pelo brilho das saias mal podiam ver que eu era das cores e não dos brilhos, das tardes e das manhãs, pouco das noites. Meus cheiros de hortelã viva, não perfume de boutique. Mas tudo que é fácil de se ver quando está longe, é invisível aos olhos de quem está perto. Nosso mundo ia acabar e eu há muito tinha a certeza de que por nós ninguém lamentaria. Duas vidas tão diferentes colocadas lado a lado, mas que nunca se completaram. Um caso bonito e tudo, mas acabado, porque todos merecem, todos querem algum tipo de algo que eu tentando achar resposta resolvi chamar de emoção, ou impulso do inesperado. Eu te ensinei que a vida corre nas minhas veias enquanto as vozes passam na tua caixa de madeira, e o teu sono vem como que de propósito concordar. Sentimos, ou deveríamos. Eu escrevi pequeno com giz pra que tu lesses de perto, a verdade assim: um futuro incerto. Fica sem mim, sem medo. E logo tu tornas a sorrir, que as belas donas de tuas noites não vão te deixar chorar por mim. Depois seríamos, de longe agora, como de sempre: tua fumaça dos cigarros, minha fumaça dos incensos e nossas luzes apagadas, em silêncio.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Suspenso.

E o tempo, que não passa?
O sono que não chega.
O amor que não basta.

Tudo parado: lá fora e aqui dentro.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Renuncia.

Passe logo, tempo:
A juventude é nada.

domingo, 12 de setembro de 2010

O verbo, palavra.

Queria ter o verbo livre como o pensamento. Que sem ter medo de julgamentos próprios se faz senhor da sua razão. Que tem seus próprios sentidos ocultos e que não se censura ao sentir-se (in)certo. Meu verbo é subjetivo, subjacente, subjugado, subentendido. Há o aperto, que as idéias presas fazem pressão contra a minha carne, querem sair, eu quero que saiam, mas. O sangue lateja na cabeça, sobe de uma vez, quente. A minha voz não vomita, engasga com as palavras e elas fogem pra longe, o mais dentro possível, logo quando poderiam ir. A cabeça gira, pesada e quase cai de tontura, da não-lucidez. Queria falar dessas coisas ao menos uma vez e sentir que liberdade vem do que eu posso me fazer ser. Disso eu sei, sei pouco do resto, dos jeitos, dos métodos. Sei do que quero: me fazer ouvir, me livrar dos dias de antes, das coisas feridas do passado que ainda dói, e tantas outras que já não me fazem parte do que eu presumo que seja eu. Falar de tudo que há de mais essencial, me mostrar nú, não ter mais medo. O meu corpo, parece não ser instrumento certo, que não obedece ao pensamento mais: ele quer ser todo verbo! Mas ele não se faz, é incapaz; de admitir querer pensar, e então ser.

sábado, 11 de setembro de 2010

Mudar.

Saia desse casulo que te molda
Pra que tu tomes a mesma forma
Que era antes e antes e que será depois
O mesmo, o igual, o molde.

Então tome alguma atitude
Que se tu não buscas informação
Não vê a luz de mudar de opinião.

Faça hoje por você, se há de começar assim
Pra depois pensar em outro alguém, e em mim.
Que se não for assim, que sentido faz?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eu que, que.

que me sinto livre, mesmo com tantas dúvidas, sei.
que posso voar, com o pensamento.
que o amor aquece, alimenta, sinto:
que isto não basta.

e começam neste ponto: a dor e a dúvida.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O aqui-agora.

Nem vi o céu de estrelas, que depois de quarenta dias foi que o tempo decidiu chover e cobrir o brilho que  eu pretendia ver. Os dias curtos, sol chegando quando já passa das oito e nem se vê direito, que antes das seis já se foi. Queria dizer também: clareia de vez. Onde está a luz que eu preciso? Falsa promessa de me alumiar. A lua também coberta, crescente como na última vez, mas hoje não vejo. E olhando pra cima, há tanta saudade no peito: da família da roça, das raízes do norte, do calor dos abraços. Da família, da roça, das raízes, do norte, do calor, dos abraços. E aqui-agora me veio uma lembrança dum quê de simples e de bom, de algo que eu não via, mas que tava era dentro de mim mesmo. Como é que a gente passa a vida inteira sem saber dizer o que é importante? Sem saber do valor das coisas que sempre estiveram ao nosso redor, é música, é gesto, é sentimento. Sem sentir que pertence a um lugar, e que dele você se afasta devagar, cada dia mais, ao passo que ele deixa de existir. Se você sentisse, saberia que ali você pretendia ficar. E você fica sem sentir tudo, sem sentir, nada. E quer acreditar que as coisas sempre estiveram no seu lugar. Mas o tempo passa, e o que sempre a gente teve, a gente não vai ter pra sempre. É que o mundo hoje tenta me levar pr'outro lugar, tentam dizer como vai ser até o fim. Percebo, agora, que eu não preciso disso. Tentar lembrar, pensar no que mudou. Se mudo em ato, sem pensamento, quero que em tudo, dê pra voltar. Voltar pro que eu sabia ser, porque sentia, sem saber. Como se esquece assim do seu próprio ser? Mesmo sem luz, o aqui-agora me lembrou de um dia que eu sentia, que eu sabia, que era bom viver.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Doentemente.

Não se encaixa nem nas patologias:
Se louca do corpo ou doente da mente,
Os laudos nunca são precisos.

As forças que agem no seu mundo
Têm leis independentes.

Não se permite à loucura simples,
De vestes brancas e tarjas pretas.

Loucura cálida, incompreende
Que o frio força a ser profundo.

Insiste num mundo insano
E à noite, em claro, só vê o escuro.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desculpa o vazio e a minha vida.

Desculpa qualquer coisa. Qualquer coisa de vida que foge do meu controle - essa palavra não me cabe muito - e eu não consigo prender dentro daquilo que tu dizes que é meu, e então invade aquilo que é teu desfazendo a noção de direito, que a minha liberdade não é alheia, por mais livre tem limites, os teus. Essa sua mania de definir e de me dizer até onde ir com meu olhar e até minhas palavras feias que saem da boca sem passar pelos filtros da sanidade plena e incomodam tanto aos teus ouvidos presos às palavras prontas. E depois do processo eu estou formado, passado agora é passado e a minha natureza antes solta reconhece as linhas: delicada e eternamente traçadas, se impondo à minha mente antes sã, mas que agora é tão vazia...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cores do verde ao luto.

Como um tapa na cara, a realidade dói menos na pele que no peito. E assusta, estatela. Quando se sonha longe e se chega perto é difícil fingir que é fácil a vida que se sonha todos os dias. No lugar que eu queria viver não é novidade pra mim que nada seja como eu pensava. Não sei nada sobre a realidade das coisas, que toda vez que eu imagino, nada tem de verossímil. Sinto que meu sonho é fabricado, vendido em todas as esquinas do mundo cinza, pra todos aqueles que estão um pouco atentos às letras verdes da embalagem. A realidade é um tapa na cara do meu romantismo besta, que não tem juízo nem razão de ser. Que só com um baque de verdade, morre. Porque tudo até hoje foi ideologia vazia de quem não vive o tempo do agora. É preciso muito mais que paz, porque se tem fome, medo e febre. A vida ferve, e passa. O mundo passa pelos meus sentidos e não há mais pureza pra absorver. Nem mesmo aqui onde o céu é longe, e o brilho é muito. Minha consciência passa do verde ao preto, de luto. Passa também da inocência, e vai à luta.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

não-linguagem.

Não me pressione pra dizer o que eu não sei expressar assim, e ser obrigada a ser razão e aceitar: que o tempo passa, e que a dor existe - se não sei, sinto. Não quero admitir, se eu disser vai acabar sendo, então não digo.  Mas tente você ler nas entrelinhas, entender das coisas, das artes, minha liberdade, e me ver como outro alguém. Não sei, meu bem, não sei ser. Meu pensamento sem forma nem cor nem palavras nem cheiros nem gostos tenta ser algo que eu possa mostrar pra você, falta a linguagem. A discussão em si é método falho, se escrevo tudo se faz claro. Minha mente que não fala, assim permanece: vazia e calma. Enquanto a tua paciência espera de mim coisas palpáveis, minh'alma voa,  mundos distantes, e é insana e livre, indecifrável. Foge dessa realidade tua, minha. Fura atmosferas pesadas, como teu olhar assim sobre meu olhar, sobre as coisas de dentro de mim. Sobre dentro de mim o teu corpo. E depois do fato feito estático e imutável a palavra que é solta, prende. Não entende, leia mais que os lábios quando falo, leia meus lábios quando te tocam e isso também eu não entendo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Um mar de paixão.

Então que tenha sido como um mar aberto tudo isso que tivemos. Lembro de um dia que eu tentava andar pela areia firme, porque sempre tive muito medo de afundar nas areias secas ou de afogar nas águas profundas. Tão grande o mar, se me batem ondas nos pés, sinto medo. Mas nesse dia, suas águas agitadas e verdes como os olhos me seduziram e não tive medo mais. Nadei como nunca antes fiz, mergulhei de cabeça, e senti que era muito melhor e mais quente do que eu esperava, mais revolto do que eu poderia imaginar, e muito, muito difícil de sair. E absolutamente bom. Depois também é bom, olhar pra trás e ver que me deixei sentir as ondas por todo o corpo, a respiração num ritmo novo e uma sensação in-crí-vel de liberdade. Foi bom sair, deitar na areia, descansar e olhar de novo, de fora, com um olhar de quem fez o que queria, enfim viveu. Talvez sinta saudades, mas vou embora, porque as coisas passam, passou, e isso também é bom. E digo que não me arrependo de nada do que senti. De longe, agora, parece descansar um mar tão calmo, e que descanse, porque ainda assim, não deixa de ser bonito.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Chorou.

Sentiu o aperto no peito e pensou que depois de muito tempo então choraria. Depois daqueles anos de meses de dias de horas de lágrimas e choros e blues e vermelho-sangue. Associação livre, e que não é livre, ria sozinha ao lembrar que repetia e repetia e ninguém entendia. Que as flores nascem e caem no chão, e as lágimas agora seguiam exemplo, e o riso vinha de dentro, e esvaia-se o pensamento.

domingo, 1 de agosto de 2010

Certezas demais, de menos...

Hoje, parece, os planos que fiz despedaçaram-se durante o dia e arrastaram-se atrás de mim, que não olhei para trás. Meus olhos pesam tanto, mas a cama não é descanço, é angústia, porque de novo deitar e não querer dormir, que o sono é de decepção, o amor passa longe da porta da rua escura que todos desviam e ninguém entra. Sozinha de amor alheio, repleta de desejos e platonismos. Espero tanto pelas tuas palavras certas, pelo fim das desculpas pobres, pelos fins que, espero eu, tu também esperas. Querer teu entendimento enquanto vivo o prazer alheio, tantas cenas passando pela minha cabeça que só quer entender a conseqüência. Levanto, não posso mais. Ansiedade multiplica a espera (eterna) e desfaz a certeza da noite próxima, mostra que é crua, fria e feia. Difícil demais pedir perdão, tocar com palavras em coisas talvez já adormecidas, cenas apagadas, ciúmes inexistentes. Medo de encarar a morte do amor antes pleno. Se fosse a garantia de te ter de novo, se fosse a certeza. Não há meios de saber se o teu desejo encontra o meu. Que o medo da solidão é grande, mas da verdade  ainda é pior. Queria teu toque uma vez mais. A certeza de mais um dia ou dois. Mas se eu tiver outra chance, talvez nem a eternidade baste.

sábado, 24 de julho de 2010

Caio.

Nas tuas palavras tropeço, caio,
me perco, me acho, me reconheço.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Celibato.

Pergunte ao teu deus porque a casa da tua fé destruída, só restos, cacos infinitos, pedaços nunca re-encaixáveis. As madeiras corroídas pelas pragas, cultivadas pelas migalhas de ervas que aos domingos tu jogavas sobre teu corpo pra livrar tua natureza sofrida - sempre escrava dos pecados da tua mente e de teu corpo, que à ela se rendia. Ah, porque você sempre tentava ser alguém tão certo aos moldes deles, mas era tão falso quanto as promessas que fazia aos teus santos de madeira, os teus olhos me diziam; nas noites escondidas naquela mesma casa escura, à meia luz das velas acesas para anjos da guarda demoníacos que nos guiavam um ao outro em meio a tantas portas vazias. Era sempre a mesma história: depois de encharcar-se do teu vinho tinto de sangue divino, você queria começar. Teus olhos me olhavam e tua voz, aos meus ouvidos, dessa vez não sussurrava preces. Tu parecias com fome do alimento abençoado e comia a carne do teu cristo, que era eu. Mas logo depois do gozo, a fome se transformava em culpa e peso - que não saía dos teus ombros até o dia das confissões inacabáveis, das orações eternas, dos jejuns infinitos, dos choros desesperados na frente do mar, que não levava as mágoas Iemanjá, porque tu não acreditas nela, só tua virgem santa. Queria ser sempre o pecado que te condena a queimar por dentro eternamente. E que sacode o teu espírito santo cansado de estar preso. Mas se não queres assim, se o meu amor tu ofereces em sacrifício, te digo que viverás a pior das penitências: assistir meu corpo ser livre nos braços de outros que entendem e sabem desta minha natureza que não é mesmo santa... e que não quer ser casta.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vermelho, sangue.

Andou em despedida sem olhar para trás e os cabelos voaram, quiseram ficar. Mas se as mãos não beijaria mais. A noite calma, à meia-luz, mas tudo claro. As palavras foram ditas na sua frente, o futuro morrera na sua mente. Desde quando procurava água, se perdeu. Últimas lágrimas sinceras. O destino muito bem determinado. Ar seco e limpo de verão. Pianos lentos, como sentia. Árvores sem folhas, galhos, inférteis vidas. Caminhos de volta nunca tão longos. Demônios esperando em casa. Seu vermelho preferido pingando por três horas se-gui-das.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Infância.

Fica horas inteiras sem entediar-se olhando plantas bem cuidadas, cenários de suas histórias. Vê tartarugas desnutridas, formigas mortas e caracóis perdidos e chora, porque tudo parece tão triste, o sofrimento daquela criatura esfomeada é dela, que esquecera de alimentar o animal. As flores amarelas caídas na calçada dão um ar de graça, aqui o tempo passa muito devagar. Os gatos esparramados e preguiçosos, ela ri, ama aquelas criaturas. O Sol das dez da manhã queima de leve o corpo desajeitado e quase nú, e cega os olhos que ela aperta bem até chegar à buganville crescida entre o muro e a garagem, onde pode enxergar tudo muito bem, à sombra devassada por apenas uns raios luminosos, que com os braços estendidos pintam a pele de bolinhas. Quando olha assim pra cima, o teto de flores cor-de-rosa é coisa mais linda que já viu, sente coisas que não conseguiria explicar nem depois de muitos anos, quando isto seria apenas mais uma lembrança confusa, não sabendo se realidade, sonho, imaginação. Fato é que agora, ela sente que está mais próxima do azul muito alto do céu, os feixes de luz que chegam até seu corpo por entre pétalas e folhas a deixam leve, como se dormisse, mas está acordada e muito sã. Então levanta devagar os braços, não sabe por que, mas sente o ar que envolve o seu corpo, parece muito pesado, acha engraçado, mas não ri. Sente que pode tirar do chão também as pernas, uma depois a outra. Não entende se seus movimentos é que estão lentos, se o tempo está passando mais devagar ou o peso da matéria ou qualquer outra grandeza das leis da física que mudou ao seu redor, mas sabe que muito lentamente agora, sues pés não tocam o chão e os braços esticados equilibram o pequeno corpo, que flutua. Os raios de Sol envolvem todo o seu entorno e parecem poder penetrar a pele, porque se sente quente por dentro, adrenalina contida de criança, sorri, calma, sente o éter. Paira um pouco sobre o ar, sente-se leve sob este mar de atmosferas sobrepostas onde tudo é devagar. E parece que tudo é sonho, talvez por isto as dúvidas posteriores. A mistura do pensar e do agir, a imaginação e a realidade indissociáveis mais. A loucura, a leveza: presentes para sempre, até os dias de agora.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje não.


Quero um café e um cigarro, me esquece.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Segredos.

O vento leva e traz meus cabelos e sei que é triste porque chora aos meus ouvidos. A luz antes brilhante me guiava, agora, opaca confunde. Me perdi em algum momento dos caminhos do Pai e tento me achar nos caminhos da Mãe. As raízes que deveriam prender-me são fracas, tudo o que aprendi até agora me é inútil. Me diz coisas tão tristes à medida que as minhas lágrimas descem lavando meu corpo, choro para fora, de dentro. Os poucos raios de Sol que furam as copas das árvores e chegam até meu rosto que continua imóvel, calmo e triste, não são suficientes para me iluminar agora. Uma hora é preciso sair de dentro de si e ver como é que se vive. Tudo muito devagar, meu corpo não responde mais tão bem. Sofri. Só a mente é rápida, pensamentos na velocidade do pulsar da terra debaixo dos meus pés. Fluxos energéticos como pregos furando minh'alma. Porquês infinitos na mente. Louca, insana, perdeu-se onde deveria se encontrar. Julgamentos eternos vou ter de passar, que o agora me faz querer a morte; e a morte tem dessas coisas.

domingo, 18 de julho de 2010

não da última vez

me beija please please please tira devagar minha saia com seu jeito de cara de todos os lugares do mundo e de nenhum que já fez isso no alabama e nos andes mas não ligue se as cores brilhantes que você viu não se repetem hoje aqui é porque as coisas são diferentes mesmo essa é a idéia você pode até se acostumar com meu cheiro de erva e de interior porque se faz mais de mês já reconheço tua pele no meio de outras que também tenho prazer em tocar mesmo na sua frente e te olhar pensando em dormir com você daqui a pouco e dançar na luz vermelha que lembra minha infância de desejos trancados no banheiro e agora que eu vivo me sinto e sei que todo o meu corpo também pensa que nessa noite não eu não vou deixar de ser feliz e insana porque não é toda noite que ouço Janis e tem tanta gente bonita em volta e aquele cara tá me olhando tão de perto e é tão bonito e eu sinto tanto tesão e quando olho pro céu que mostra a lua crescente minha perferida percebo que o tempo é agora e me sinto livre pra correr pra perto rir de dentro viver pra frente e se te olho dá um arrepio e penso em ir correndo e beijar a sua boca e repetir você é lindo demais porque é verdade e te trazer aqui pra dentro pra me ouvir dizer pra você como foi que eu esperei tanto tempo pra falar com essa voz louca me come querido porque é isso que eu quero que você faça vai fundo e então ouço o que você me diz e viro e faço o que você pediu porque é assim que eu gosto também acho que eu te disse parece que a gente é bicho tudo tão apertado e bonito e real e eu tenho vontade de gritar porque parece que você entende o que é viver o momento de sentir tua carne entrando na minha e que é de verdade não é sonho e eu gosto tanto de me sentir e te sentir e se eu não estivesse tão bêbada talvez eu sentisse meus movimentos mais sincronizados com os meus pensamentos que deslizam de leve o meu corpo sobre o seu e eu rio tanto porque é isso e eu não consigo dizer se é só amor sexo ou paixão e não importa porque depois dos sonhos penso em fazer tudo de novo porque você é tão legal e eu tô gostando tanto tanto tanto de você e porque eu sou mesmo meio insaciável e adoro essa coisa de dormir junto e sem querer começar mais uma vez a te provocar e não ligar ao depois ver que todo mundo estava olhando e dessa vez sim eu era uma louca despreocupada e talvez irresponsável e só porque eu tava era vivendo o que eu queria

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não sobreviva.

Um corpo humano demais, um gosto amargo de tão azul por dentro. Feio, porque não acredita na beleza. Chore de uma vez e me mostre o que esconderam em você. Não seja medíocre.  Não seja medíocre. Não seja medíocre. Não. Tenho que me lembrar disso todos os dias. E viver um velho amor, um grande amor ou um novo. Não estou te pedindo nada, mas me deixe só, quero ficar só, chorar só, morrer talvez. Depois de um dia inteiro sem luz, sem música, sem rir. Os dias seguintes não, chega de dias mortos. Vive hoje então. Mas o seu corpo ainda assim não tomou forma. Conhece os outros, pelamordedeus. Beija tua menina e vai. Ninguém vai te dizer como agir, o que sentir. Seja forte, vai doer. Tudo o que eu queria era sentir de novo dor. É de amor que choro agora, é da dor que rio. Dói muito viver. Existe vida, meu menino.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Natureza vingará seus filhos.

Essa tua obsessão por limpeza e tanta sujeira dentro da própria cabeça. Quem foi que lavou tuas mãos "sujas" de terra e colocou coisas podres nas tuas idéias? O mato que nasce do chão e eu mastigo, me nutre. É mais limpo que o prato que pões em tua mesa: está cheio de sangue daqueles infelizes inocentes indefesos. Então cuspo de nojo das tuas boas maneiras, do teu jeito egoísta de dizer que fazes isto por direito. Que tipo de inteligência é esta que não vê tantas contradições óbvias?
Pensa que a terra é nada. Pensa que o homem é tudo. 
Pensa em tudo errado e quer discutir o futuro.
Transforma tua mente, revê tuas certezas, refaz teus conceitos. Aprende o teu lugar no mundo. Se o direito é do mais evoluído, teu não é, tu verás de perto:
o cinza desaparecendo, 
o verde tomando tudo, 
a Terra voltando à vida!
E perceberás já tarde, que tua vida é nada, teus feitos nem virarão história, é chegada enfim, a hora de tua morte.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mais de ser livre e de amor.

Sinto-me agora desordenada
Eu não sou só instinto e carne
E se é liberdade o que eu mais quero,
Preciso ser mais do que Terra.

Mas estou perdida no meu mundo
de vontades delirantes.
E essa confusão estranha
de não saber o que eu sinto
e minha natureza ser mistério...

Mas eu sei o que não quero:
Perder o amor que sempre quis.
Por egoísmo, liberdades,
e mais tarde na escuridão
só conseguir ver meu vazio.

Por que não me sinto bem,
se o seu amor me deixa livre,
e é liberdade o que eu mais quero?
Ser de todos é bem mais:
não basta um dia tê-los perto.

Amor não pode ter limites.
Que sejam então todos mais livres!
Ninguém pode ser dono
das liberdades alheias.

Mas ainda te quero comigo.
E não duvide do meu amor
por você: forte e verdadeiro
pelos outros também, mas passageiro.

E vários amores trarão felicidade, o amor trará!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Meus dias de verdade.

Tudo bem, cansada. Falo isso com a voz quase sumindo, dá um tom de verdade, e é natural. Ah, do mundo mesmo.  Das coisas. Dessa vida moderna, cara. As nossas falsas liberdades conquistadas com dinheiro. E os comodismos e confortos desnecessários. É tudo falso. Não, mas o que é realmente necessário? Não parou mais:  começaram outros e outros questionamentos. No final de semana, na tarde de tédio. E a arte? Se me faz pensar. Pergunto de novo: o que é realmente necessário pra mim hoje? Filosofia? E quanta coisa tem pra pensar. Só não posso ficar parada, sem fazer nada só pensando: tempo só existe quando é inconveniente. Já tentei dizer e acreditei: o tempo não existe - mas insiste em atormentar. As pessoas que inventaram isso, é pura abstração, não existe. O fastasma do tempo, e não existe. O sono existe. Não se tem controle. Mas ainda tenho muita coisa pra assimilar essa noite. E começo a ficar cansada e me pergunto qual é o sentido das coisas. Um dia terei a vida perfeita. Mas estou longe de meu bem. Mas quero plantar meus alfaces agora. Quando o meu maior desejo é ter uma vida fácil, não, por favor, não me entenda mal, eu não quero ser um deles. Acho que eu adulteci demais, querendo achar resposta pra tudo. Eu queria mesmo saber quais coisas são realmente necessárias.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Outra tentativa de estar em harmonia.

Se quiserem, venham todos: hoje ao menos, sejam livres. Viva você na ilha da realidade. Há música aqui, há vida correndo solta e passando pelos nossos pés, tão inocente. E voando, há cores no céu. Há pessoas, também, enfiadas no mato. Encontre as pessoas e perceba que no meio disso tudo que as nossas mãos não vão ser suficientes para tocar tantos corpos que procuram se entender nesse lençol estendido na grama agora. Os olhares cruzados, três ou mais. As cores tão vivas, chego a pensar  que são mais reais, o que faz do meu estado exatamente: real. Os cheiros tão fortes, cheiro que a gente não sente mais por aí: cheiro de gente. As formas dos corpos, peles, pêlos: relevos não convencionais. Tudo isso vai te saciar, assim como a mim. Nossas bocas se tocam em meio aos gemidos histéricos e os risos de felicidade, ah! que prazer que dá. Essa coisa de tocar: as peles se tocam, se esfregam, se apertam todas, corpos se envolvendo, fazendo o que querem fazer. Essa coisa de sentir: na carne, no espírito.  Tudo isso causado por essas outras pessoas. Tão estranhas, tão bonitas as pessoas. Só, não haveria harmonia. Os movimentos sincronizados com a guitarra que não pára de chorar e pedir que a gente mergulhe mais fundo nessa onda de insensatez. Uma pausa, uma busca solitária momentânea por outros objetivos. Encontro novas coisas, vivencio. Mais motivos depois de ouvir o crepitar do fogo queimando a erva enquanto trago devagar e sinto a fumaça presa transformar minha vontade de tudo em mais. E saio de uma roda para a outra, dançando de pés pisando sem medo a terra, pessoas cruzando o meu caminho outra vez, o verde ficando cada vez mais brilhante. Não sei porque, só sei que caí, num poço que gira sem parar, de um gosto de sangue doce demais. Posso dizer que vivi. Será a morte, o castigo, o medo, o destino que se faz sentir? E tudo o que eu fiz foi querer o que todo mundo quis: amor & vida.

Chove e renova.

domingo, 23 de maio de 2010

Vai também.

Você me diz que posso ir e conhecer o mundo.

E se volto e no mesmo lugar te encontro,
é que você ficou tanto tempo me esperando. .

Ei, o mundo também quer conhecer você!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Efêmero.

Efêmero é aquilo que dura só um dia.
Só - um - dia.

Mas fica na cabeça por muitos dias, muitos dias, muitos dias. . .

domingo, 16 de maio de 2010

Ah, eu gosto tanto de árvores...

Amor platônico, vazios e silêncio.

Te vejo como pessoa, homem, espírito criativo. Tu fazes a música, que me toca do jeito mais estranho. Mas um estranho completamente bom: como se todos os meus sentimentos fossem os mesmos que os teus e estivessem condensados e concentrados num ponto bem no meio do meu peito, que se contrai e se dilata. Teus acordes fortes, pesados, tão cheios de verdades sobre a minha natureza: mescla-se perfeitamente com o silêncio. Ar doce de melancolia. Vejo-me tanto nos desenhos perfeitos que fazes de coisas simples, de coisas inexistentes, de coisas cheias de vazios. Tu sentes, eu sei. Queria sentir-te perto, queria que me sentisses. Tu me fazes feliz sem saber a cada dia que vou ao encontro das tuas artes. Imagino tua vida encontrando a minha. Tu conhecerás e amarás também as minhas artes, espero tanto. Pelo dia em que tu me enxergarás por dentro.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Posso sentir de novo?

Tudo porque eu tenho medo demais daquilo que eu disse que eu queria pra mim: sentir. Mas quem pode ser só peito aberto e esquecer dos ventos que sopram aos ouvidos, freando emoções, silenciando gritos? E que pessoa, ao contrário, conseguiria dizer - Não. sozinha, por iniciativa própria? Que não quer viver isso, que prefere a normalidade limitada e prevista à emoção, à felicidade, à imprevisivilidade das noites sem futuro certo? Eu não poderia ser esse tipo de pessoa, nem nenhum tipo, nem que diz que não, nem que diz que sim, nem que não diz nada, mas te digo com os olhos que eu te quero, com a boca de palavras vazias eu te peço pra ir embora, ao mesmo tempo que com meus braços te apertando, tento te trazer pra perto - talvez pra dentro - de mim. E com minha mente obcecada pela realidade certa dos dias e todas as verdades do mundo, eu me percebo cada vez mais assim: tentando definir coisas, tentando fazer os pensamentos fazerem sentido, tentando fragmentar o que eu sinto. Juro que tento não pensar, me deixar levar, ser só das coisas efêmeras. E se não consigo, te digo: da próxima vez, tentarei melhor.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Seja simples.

Se tudo está tão difícil é porque provavelmente as pessoas inventaram coisas [chatas] demais. Tudo deveria ser simples.

Catarse.

Gosto de olhar as pessoas. Fico imaginando seus problemas, suas carências, suas ausências, suas dores. Essas pessoas se preocupam com coisas importantes, como descobrir coisas em si, crescer, ser melhor, sempre tendo alguma coisa para falar. É difícil falar, nunca sei o que dizer, tenho que pensar muito, tentar encarar coisas minhas como problemas, que devem ser eliminados. Sempre choro, porque dói muito tentar me entender e me ver assim. Às vezes fico em silêncio, me perguntando o que eu estou fazendo aqui? Terapia? Podia ser através das artes minhas e assim seria mais eu e menos os outros. Mas penso que embora seja difícil, preciso continuar falando, porque me disseram que eu deveria me tratar, estou tentando. Porque me convenceram de que não é normal querer amar mais de um alguém, nem querer estar deprimida e chorar tardes e noites inteiras pensando nas tristezas e injustiças e contradições do mundo e minhas ou em nada, nem imaginar que no momento que fechei os olhos o dia passou e eu fiquei parada e quando abri os olhos já era um novo dia e eu ainda estava ali, nem sentir alguma coisa mas não conseguir falar sobre ela, nenhuma dessas coisas há de ser normal. Então eu preciso falar, esgotar as idéias na minha mente, extirpá-las. E quando eu consigo falar, vejo as coisas ficando muito claras, tudo limpo, tudo certo demais. E no meio dessa ordem, começa a haver um tipo estranho de equilíbrio, uma coisa estática, e me vejo perder a capacidade de usar aquele antigo caos interno para algo criativo e mais parecido comigo. Toda essa ordem não parece comigo, a não ser um eu morto. O que será das minhas artes? Se não houver dúvidas mais, se houver muitas certezas, se tudo for branco e simples ao invés de um turbilhão de coisas confusas vindo ao mesmo tempo à mente? Sem criar, eu serei nada. Sem a arte eu me transformo em uma casca vazia de alguém que há muito teve a mente cheia de cores, idéias, sentimentos, dúvidas e que agora tem apenas certezas demais.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

São só números.

Nenhum   Paulo  ou  Tereza  ou  João.
Nada  de  histórias  tristes dessa  vez.
Sempre o mesmo problema se repete.
Mas duzentas pessoas morreram hoje.
Quiseram   viver   em   meio   ao caos.
Este     mundo    nunca       foi   delas.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Um jovem só.

Não gosta muito de outras pessoas e prefere a companhia de gatos, mas não é uma má pessoa. Não quer muito as pessoas por perto, embora se sinta só. Mas não as quer mal também, só não as quer. É difícil lidar com as pessoas. Na maioria das vezes se vê fazendo caras, forçando climas, inventando assuntos para falar e  se sentindo tolo. É difícil falar com as pessoas. Com alguns velhos até tem certa facilidade. Gosta deles porque o olham além de cabelos verdes desgrenhados e all stars velhos e cigarros na mão. Chegou a pensar com o tempo que a maioria das pessoas não é tão madura nem sábia quanto os simpáticos velhos que encontra pelos ônibus e quitandas e achou muito óbvio pensar isso e quando eles eram jovens o mundo ainda não parecia tão podre, eles devem ter tido algum ideal. Gosta dos velhos solitários como ele, que vê pela rua às vezes, que o cumprimentam com bom-dias serenos, desejando um presente melhor, não um futuro: o imediatismo de quem não tem mais tanto tempo, como todos deviam ser. E é nesses momentos ele se sente bom, que sente haver na vida do outro e a sua própria, um quê de doce e de luz. Deseja-lhes verdadeiramente bem e volta para seu mundo quase sem cor, até que outro alguém venha lembrá-lo que é bom e que precisa ver e viver e sentir por si só.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Bom trabalho.

Acordar e ver que o Sol já está começando a iluminar o céu. Começar a trabalhar essa hora é sagrado. Cuidar da terra que alimenta os filhos dos homens, meus iguais. Escolher as melhores sementes, encomendar seu crescimento. Colher os frutos maduros na cesta de palha outro dia trançada por nós. Minha tarefa diária é cumprida com muito zelo. Sempre há o que fazer: pegar as ervas para o chá, sementes para plantar, legumes para colher, adubo para misturar, folhas para juntar,  árvores para podar, um mundo para regar, bambus para cortar, palha para para secar, animais para alimentar, comida para preparar, espaços para limpar, mais diversas coisas para construir. Há muito trabalho e cada um faz uma parte. Fora daqui há quem diga que o trabalho é ruim. Talvez estes nunca tenham trabalhado assim: sabendo que cada pé de árvore que nasce aqui é de todos nós, que cada pedaço de terra cuidada é que alimenta nossos dias, que a água das chuvas captada mata a sede dos nossos animais, que a floresta preservada é que nos permite viver, que para ter boa saúde é preciso se empenhar e que nenhuma dessas coisas acontece sozinha. Há de haver trabalho, mas dos bons. Que se veja a importância, que se sinta necessidade e prazer, por saber fazer ali a vida da gente, a vida dos bichos, a vida das matas, a vida, melhor.

domingo, 25 de abril de 2010

Porque sonho que te quero.

Se invento coisas só pra te ver acordar,
Se compro o pão,  faço o café,
Se fico horas esperando o Sol nascer,
Sem conseguir dormir, sem querer comer.

É que tua imagem me invadiu os sonhos
E fiquei horas depois pensando e querendo saber
Se o que aconteceu entre eu e você
Deveria de novo acontecer.

Se não paro de pensar em você,
Se não evito mais teu olhar, porquê?
Porque te quero, te quero.
Te quero bem.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Minha planta.

O sol te nutre todos os dias. As tuas folhas verdinhas cresceram.
Serás maior do que eu um dia. Então comerei dos teus frutos.
Te dou água, converso contigo e te cuido e te quero.
E ao menos eu tenho certeza de que tu não
esperas mais nada de mim, pitangueira.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um dia de amor livre.

Sem que nada tivesse sido falado eu sabia que qualquer toque seria demais para ficar depois sem te tocar. No escuro, você tão perto assim de mim, a tua pele pedia pra que eu te tocasse, e porque a minha pedia o mesmo, o dorso da minha mão passou de leve pela tua que esperava qualquer sinal. Então começou o que eu queria: nossas mãos se tocando, se acariciando, se entrelaçando, refletindo vontades do corpo inteiro. E houve a hora em que as mãos não foram suficientes mais, nem duas, nem quatro, nem os braços, nem os olhos, nem. E os corpos inteiros,  se encontraram enfim.

Num ritmo que era só deles. Num momento mais-que-perfeito.

O coração, desde o início estava em paz, mas respondia a cada estímulo da pele como se ele próprio estivesse sendo tocado e dilacerado. Uma paz, uma euforia, quisera as drogas me fizessem sentir tão bem: é mais fácil tê-las do que a você. Meu corpo quente da sede  do teu, o calor dos teus toques que passavam do meu pescoço como ondas de arrepio e prazer para o corpo todo. Teus beijos descarregavam em mim uma energia latejante e calada que guiava nossos corpos por movimentos sinuosos e insanos.

Nossos corpos pulsando amor e calma.

E saciados, permaneceram juntos naquela mesma melodia, mas não pararam de se tocar nem quando a noite veio trazer para cada um sonos distintos, mas tranquilos, os dois. A luz do dia foi que trouxe o fim daquilo que para mim era apenas o começo.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Lugar nenhum.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A três.

Dormia imaginando o dia em que seríamos só nós três. Nossas bocas pediam aos céus pelo mesmo homem e teu choro lamentava por aquilo que eu já tinha: o amor dele, que eu dividiria contigo, porque a ti também eu amava. E ele também, tenho certeza, mas naquele tempo as teorias inventadas, o certo e o errado, as ideologias, ainda eram muito fortes e por isso ele não nos quis todos juntos. Negava sempre com palavras, mas só para mim se entregava com a mesma boca que as dizia. Mas ele nunca aceitaria dividir o meu amor contigo, porque o que eu representava para ele era sagrado demais, ainda que insistíssemos que assim como aquelas idéias, essa noção do sagrado também havia sido inventada. Porque tu me disseste, e eu acreditei, que Deus era energia, era sexo, era liberdade, era paixão. E isso era tudo o que nós dois queríamos a três. Depois das tardes em que tu me seduzias, nas noites eu não tinha paz. Eram cheias de sonhos loucos, vermelhos, quentes. Tudo de terra e fogo. E me sentia viva,  sentia prazer, sentia. E queria que todo esse prazer fosse causado por vocês juntos, meus homens. Imaginava nossos corpos juntos na mesma intenção, apertados um contra os outros. Um círculo, um ciclo, que nunca seria possível a dois, nem sós. E com as minhas mãos no meu corpo eu imaginava as tuas, mais magras e mais fortes, as dele. E nossas mãos me tocavam, tocavam fundo. E me sentia mulher, me sentia feliz, nunca em paz. Mas paz haveria quando estivéssemos juntos. Nunca houve paz. E ainda hoje eu durmo imaginando o dia em que seremos nós três.

sábado, 3 de abril de 2010

Luz que me fez preso na minha natureza.

Não que eu não soubesse o efeito que isso podia me causar, mas queria que me fizesse querer viver mais, não nunca mais. E pensar que algo tão natural, simples, pudesse me mostrar a real essência do que o meu ser não era. Mas então me tornar mau. Colher as ervas, pegar a água, preparar o chá. Simples e de consequências sem volta.  Eu só queria enxergar mais do que meus olhos foram feitos para ver. Pensando que ver me faria mudar, para melhor, não para agora. Mas ver a aura das criaturas não iluminava também o meu ser, só evidenciava a escuridão opaca na qual eu me encontrava. O que eu não sabia era que ver a luz significava ver também a não-luz, e eu não estava preparado pra me livrar daquilo que impedia que a minha luz brilhasse. E também não aguentava pensar em mim como um ser tão egoísta, pequeno e ruim. E pior do que pensar era que agora, eu podia ver a distância que eu estava deles. Havia momentos de maior desespero, quando eu gritava e chorava sem parar, me sentindo sujo, feio e sozinho demais. Por que não havia ninguém como eu? Acho que passei a um estado diferente, estava ainda no mesmo lugar e era o mesmo, mas só via agora a minha nova realidade, em meio aqueles que há muito tempo, tanto tempo que nem se lembram mais, embora saibam, eram como eu. Enquanto não passava o efeito, e acho que durou meses, eu ficava pensando na minha natureza. E cheguei a pensar que nunca poderia ser como eles. Me via tão longe, mas ainda havia em mim algo que não era totalmente ruim, algo de esperança. Pensava que o tempo me faria sair dali, e que quando isso acontecesse, voltaria a ser como eu era, não importa quão bom ou mau, porque aqueles que estariam comigo eram tão cinzas quanto eu. E então eu voltei, um dia, o mesmo que tinha ido. Mas acho que pensei demais, vi coisas demais, me tornei demais algo que eu não era, ou era e não sabia. Não me transformaria no que eu queria e se sim, sabia que pra isso só havia um caminho: ser, aceitar minha natureza. Mas não quero, me canso, desisto. Acho que o único jeito de me livrar desse sentimento, de querer e não querer ao mesmo tempo nenhuma natureza que não seja minha não chega a ser uma opção, porque a minha realidade me faz refém de mim, mas se for para tentar, então quero tentar não ser, nunca ser, não ser nada, nada mais.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Amar e conhecer o outro depois de si mesmo.

Nossa estabilidade é incerta
Pelo próprio motivo de haver
Certezas demais e seguro ser
Tudo que um só no outro espera.

Amor demais, dizem que mata.
Mata o eu que precisa existir
E o você que eu preciso ver
Forte em si mesmo não em mim.

Talvez seja preciso parar,
Tirar um tempo pra ser só,
Assumir riscos, ainda que a dor,
E ser o seu amor mais íntimo.

Então se deixe partir.
Vive um tempo em si, se conhece e ama.
Depois volta, depois mostra
Que encontrou sozinho sua paz.

E depois que volta, não pára.
Ainda se renova e nasce e eu faço o mesmo.
E se te vejo de um novo jeito
Os dias de antes não voltam mais.

E dá amor, que o amor cresce
No universo de nós três: eu, você, você e eu.
Que se um esquece, o outro lembra:
Ah, nós dois nos amamos tanto!
 

terça-feira, 30 de março de 2010

Dê-lhe o presente que quer viver.

Uma pessoa que gosta de conhecer outras pessoas tão interessantes, bonitas, melancólicas, inocentes,  entediadas e divertidas quanto ela. Sonha em um dia ser feliz em seu mundinho, o universo imaginário repleto de hortas, animais, solidariedade, artes, liberdade, pessoas, amor. Enquanto isso, ocupa-se com os trabalhos superficiais da faculdade; tenta lidar com a falta de tempo pra dormir; passa o tempo ouvindo música, pensando em ser melhor, tentando produzir algo bonito, conversando com as pessoas, lendo coisas aleatórias, querendo abandornar tudo e ir logo para aquele lugar perfeito que não existe. Mas a verdade é que as suas plantas morreram de verdade, seus livros não são tão interessantes, ela fica triste boa parte do seu tempo, não gosta de quase nada que tem que fazer e poucas são as coisas que a alegram verdadeiramente e as pessoas com as quais realmente gosta de estar, mas ainda existem. Por isso se lembra que é preciso viver, continuar, tentar, embora sua única vontade seja dormir dormir dormir e nem tão cedo acordar.
 
"Se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida." Clarice Lispector

"Existe coisa mais autodestrutiva que insistir sem fé nenhuma?"
Caio F.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Porque eu te conheci e te desejei.

A minha pele deseja desde o início o contato com a tua. As tuas mãos tocando o meu ombro no meio das conversas me provocam de um jeito louco e eu quero deixar que me toque inteira. Espero o fim dos assuntos ansiosa pela hora da despedida, quando há desculpa pra te tocar e te dizer, sem querer, sem dizer, aquilo que sinto. O abraço parece mostrar tudo o que eu tentava esconder. Tenho medo que tão perto tu possas perceber que o meu coração está acelerado e que comecei a tremer. É que eu esperei tanto por esse momento. E não dá vontade de te soltar, está tão bom assim e está demorando mais do que o normal, será que as pessoas vão perceber? É tão bom sentir assim. Você está tão cheiroso, sua pele é tão boa. Não sei porque, porque você? Queria ficar aqui por mais uma hora. Mas te solto, embora não queira. E dá vontade de voltar, não largar o teu braço, me abraça mais também, ou pelo menos deixa eu colocar a cabeça no teu ombro assim, como os gatos que falamos. Passou tão rápido, já acabou? Será que eu posso te abraçar de novo? Melhor não, eu tenho que ir. Sair logo de perto de ti, antes que eu me entregue com qualquer olhar. Me sinto tão medíocre quando tento evitar teu olhar, mas é porque se eu te olhar nos olhos... ah, se eu olhar nos teus olhos eu não vou conseguir mentir mais e eu vou querer pedir me abraça de novo, me leva pra tua casa onde eu me sinto em casa, faz tudo que eu quero que faça, me toca mais fundo, me queira também. E quando eu penso que não devo, porque não há certeza no meu sentir, fica tarde pra pensar que a condição é não ter certezas, não se envolver, te deixar ir. Então sem te olhar vou embora. Tento levar viva essa lembrança comigo, nosso abraço, tua pele, tuas palavras. Tudo podia ser tão bonito. Tento ser racional, eu já tenho compromisso e um amor, embora quisesse infinitos. Mas sem querer quero te ver de novo e sem ninguém ver quero te tocar mais e de uma vez olhar nos teus olhos e ver se depois eu consigo ter paz.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sobre sentir bem mais que amor.

Quando esquecemos que tinhamos que cumprir um ritual, pular etapas, negligenciar sentimentos indefinidos e corresponder de jeitos pré-determinados, tudo aconteceu tão naturalmente, exatamente como se nada precisasse ser dito e sim sentido apenas.  O amor sentido no peito, nas veias, na alma. O corpo todo pulsando, sentindo que recebia e dava prazer, troca perfeita. Os nossos corpos relaxados, a respiração ora parava, ora queria engolir todo o ar. O limiar entre a tranquilidade e a euforia, a calma e o desespero, o silêncio e os gritos, a pausa e o movimento, a lucidez e loucura: só então fui entender o que significava equilíbrio. Esqueci os objetivos, os porquês, os antes. Senti você, sem esperar nada, sem querer mais nada, sem prever decepções. E porque houvesse conexões mentais espirituais energéticas psicológicas físicas cósmicas alinhadas em uma esfera de luz invisível ao nosso redor, pudemos sentir o tempo parar e os nossos corpos mais leves e uma felicidade louca e as nossas mentes em transe.  O início do que seria uma vida inteira de amor e comunhão e simplicidade e prazer.

domingo, 21 de março de 2010

definições.

o que é que define uma pessoa? são as roupas que veste? as coisas que ama? as músicas que ouve? os dias que vive? as cores que gosta? os lugares que passa? as pessoas que convive? o tempo que gasta? as atmosferas que transforma? as dificuldades que tem? os deuses que acredita? os bichos que gosta? viagens que faz? as comidas que come? os filhos que cria? a água que bebe? as emoções que sente? os sonhos que tem? as ervas que fuma? os livros que lê? o bem que deseja? as experiências que leva? o estado que transpassa? as loucuras que pensa? as idéias que acredita? os momentos que chora? o mundo que vê? o corpo que tem? os desenhos que faz? as coisas que cria? as escolhas que faz? as crenças que tem? os sentimentos que emana? a mente que transcende? as mãos que segura? as utopias que deseja?  os amores que vive? perguntas e respostas, nunca definições, nunca limitações: não se defina e sua alma não terá limites!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Bons ventos.

Tomara os ventos da mudança levem embora e transformem tudo o que aqui há. Deixem só sementes boas para os solos férteis de sabedoria e consciência e amor. Soprem logo bons ventos, ninguém aguenta mais esse mundo. Com tantos frutos podres, pobres de vida, somos nós. Novos dias, novos tempos. Mais vida, cor e luz. Ah, tomara os ventos da mudança!

Jovens de luz.

Jovens pensam em fazer algo além de viver apenas por viver, pensam em fazer algo pelas outras pessoas e pelo planeta. Paz! Luz! Gaia! Dançam em círculos, mãos dadas, pés descalços, cabelos ao vento. O pensamento elevado aos deuses que querem ser. Entoam lindos cânticos, choram de felicidade, riem de alegria. O contato com a terra, de volta às origens. A natureza sempre presente. A relação das pessoas sempre mais forte, pessoas que se olham nos olhos, se tocam além da pele, se amam. E amam os rios, as matas, os bichos. Fazem tudo para que as coisas mais naturais e simples não percam jamais sua importância. Sabem que são filhos da terra, pequenas sementes germinadas com os fluidos mais especiais. E trabalham, trabalham muito. Falam de plantar, cuidar, proteger, amar. Acordam com a luz do sol, felizes e agradecidos por estarem ali, dormem com tranquilidade sonos de paz e saúde por saberem fazer a cada dia um mundo melhor. Para si mesmos, para os outros todos, para ninguém. Fazem com que as pequenas grandes coisas sejam preservadas. Que jovens com estes pensamentos de vida! Jovens de espírito, almas furta-cor. Sou um deles, pensei. Eu quero ser um destes jovens.

"Jovem! Jovem, desbravador de novos mares, depende só de teus cantares o renascer de um mundo bom, bem melhor. Jovem, de sangue novo e peito aberto, será traçado um rumo certo: guiaremos o mundo ao amor! E quando amanhecer, num sol de primavera, desvenda a nova era em mim e em você!"

domingo, 14 de março de 2010

Você que é anjo, poeta e serpente.

Não sei dizer se hoje consigo pensar em você sem dor. Você me fez criar tantas esperanças, me fez ver um mundo completamente novo pra depois eu descobrir que você não queria dividir seus sonhos comigo e que eu não fazia parte dos seus planos, embora dissesse que sim. Embora não me quisesse, me queria por perto. Todas as tardes você me seduzia com bach, pimenta-do-reino, alecrim, incenso, vinho, flores do campo. Sua poesia ficava dias e dias na minha cabeça, assim como o jeito que você falava, os movimentos do seu corpo, o seu cheiro. Antes de você eu tinha um amor perfeito, todas as certezas do mundo. Depois de você eu tinha um mar revolto, todos os questionamentos possíveis e sentimentos antes i-ni-ma-gi-ná-ve-is. Você me fez ver e mudar a minha vida. Você sabia que eu estava ali ao seu lado e era onde eu pretendia ficar. Achava que com você nada seria igual, só as coisas boas. E então você pôde usar a minha devoção toda pra o que quisesse. Dividiu comigo seu pranto, sua insônia, seu desespero. E eu me perguntava: quando aquilo seria substituído pela calmaria? Me fez imaginar um mundo que acreditei ser perfeito, porque o mau tempo passaria. Viveríamos juntos e você não choraria mais. Seríamos felizes, então. Mas nossos corpos nunca chegaram a se tocar. Porque você não queria. Foi então que percebi que nunca passaria a tempestade, porque eu nunca fui pra você o que você era pra mim. Então você se foi. E eu deixei e quis que você se fosse. E você não me levou contigo e não sofreu em ato ou pensamento. E nos momentos de dor, isso foi o que mais senti. Depois disso eu discutia com Deus como você costumava fazer: gritava, chorava e pedia para morrer. E eu fiquei realmente triste, uma tristeza que durou tanto tempo que talvez nunca tenha parado de crescer.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Como viver o tempo?

Será que eu sou eu quando eu me mantenho dentro de mim ou quando me liberto ilimitadamente para fora? O meio? O intermédio de coisas externas na minha personalidade, que coisa de entender. Todos me olhando, pensem o que quiserem. Eu estou feliz, descrobri mais coisas em mim. Posso ser assim, ou de outro jeito, pensamentos momentâneos, sou que sou. Meu dia, minha noite, determinados por coisas que eu não praticava.  Pessoas, quem? Pessoas quaisquer importantes de repente. Bonitas, interessantes, se olhadas de perto. Corpos tão perto do meu, eu deveria fazer alguma coisa? Não quero fazer nada, pra mais, pra menos. Amo, quero alguns. Quero viver esse momento. O momento que escrevo, que como, que bebo. Que quero me entregar de vez. Tantos abraços numa noite, importantes uns. Olhares, beijos, toques. Palavras soltas, queria que mais soltas ainda. Pessoas podem gostar de pessoas, sempre digo. Pessoas. Independente das sete artes, do clima, do sexo, do tempo, do alimento e inclusive das outras pessoas. Pessoas juntas soa uma coisa muito bonita. Queria fazer parte disso. Sozinha não há futuro. Sinto que tenho uma capacidade inerte de amor. Queria fazer o querer todos os dias. Amar, no mais amplo sentido da palavra. Amar Amar Amar Amar. Os dias passam, as pessoas passam e o sentimento. Triste é saber que o tempo também passa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Breve eterno amor.

Muito pouco tempo pra tanto sentimento. Quando perto, uma atmosfera indevassável. Um dia todo mundo precisa voltar: pra longe, pra perto, pra dentro. Você iria e tenho certeza de que não voltaria. Nunca pensei que pensar pudesse causar tanta dor. Imaginar a sua partida fazia lágrimas tristes da saudade antecipada, quando se sabe o inevitável. Um peso enorme no peito, desespero.  Era chegada a hora da partida. A despedida, a longa viagem, a dor da morte daquilo que havia. Sentimento ainda mais devastador quando te vi, estava claro que seria a última vez. Os nossos olhares, os nossos corpos se aproximando, as nossas vidas se distanciando para sempre. O último toque estará sempre vivo na minha memória. O jeito como o seu abraço inteiro me envolveu, seu peito e o meu, nossos corpos girando juntos no ar, meu corpo se deixando levar por sua dança,  a felicidade que tomou conta de mim, eterno momento num minuto. O último instante, o mais completo de todos. Tive certeza de que aquilo era o mais puro tipo de amor.

Expectativas.

Já está tarde, deveria descansar, dormir, porque ainda esta semana os dias vão deixar de ser cheios de expectativas e coisas inusitadas para enquadrarem-se novamente nos horários da velha rotina. Há tanto do que reclamar, mas ela deixa o tédio e muitas decepções longe do alcance da mente, que somente preocupa-se com prazos a serem cumpridos. Quando não há obrigação também não há disciplina para fazer tudo que há de vontade, acaba o tempo passando e os dias vão sendo levados sem perceber. E são tantas as coisas que se tem vontade de fazer. Ler, desenhar, pintar, plantar e dormir. Quero mesmo descansar, para sentir-me disposta, saudável, bonita. Apesar de cansada, sinto-me muito feliz e com certo tipo de espírito jovem. Estou com um brilho nos olhos, não sei se é perceptível, mas estou com vontade de viver, de me livrar do tédio que me corrói, da preguiça, dos vícios todos, dos outros defeitos. Estou com sede de vida e de mudança.

E há sempre um quê de novo.

É preciso viver. Ainda que a rotina se estabeleça, cansativa, monótona, desinteressante, é possível transformá-la em algo de inovação, pois sempre há algo novo. Sempre há um livro que não se leu ainda, um disco que ainda não se escutou, um lugar que não se foi, algo que não se tentou. E não digo no mundo, este ser inalcançável, longinquo. Digo facilmente acessível: um livro velho jogado em casa, um disco do cara do quarto ao lado, a praia da cidade distante. Sempre há. Sempre reclamo muito, do tédio, da monotonia, da solidão. Do tédio não me livro. E tem tantos livros neste quarto que eu gostaria de ler. Falta de tempo? Quantos e quantos livros comecei e a ler e parei antes da metade? Às vezes dá vontade de não dormir nunca, pra ver se dá tempo de ler tudo, devorar tudo numa noite. Mas os livros não lidos, histórias, informações pela metade, ficam me incomodando, deixando ainda mais desconfortável a sensação de tédio com a de atividades não terminadas. Tem sido minha maior meta: ler. Ler, entender, rabiscar os livros, e tenho conseguido, durante vinte páginas consecutivas. Depois disso os latidos dos cães, os desenhos das letras, os fragmentos de poeira na luz se tornam mais interessantes. Acho que é minha natureza o tédio. Mas sobre a inovação, digo: sempre há mesmo algo de novo. O meu medo é saber que existem tantas novas coisas e antigas também, desconhecidas, indecifradas, mas que lamento e temo: não me interessam ou sensibilizam.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sobre ti, meu amor.

És belo, és sincero, és forte. Teu corpo, minha tranquilidade, minha euforia. É tão macia a tua pele e disso só saberá quem provar do teu abraço apertado, confortante. Os teus olhos, rasgados, tão sinceros, bonitos. Teu cheiro de coelho, bicho livre. Tua mente sensata contrastando com a minha, insana. Nosso futuro é certo. Te quero, e sem precisar esperar vivo todos os dias feliz pela tua presença, satisfeita com tuas mãos nas minhas. Me dá alento, me ama, me entende tanto. Amo-te, és como alimento! Quando juntos, somos um. Minha vida, meu mais sincero amor. Quero estar sempre junto de ti. O lugar que. Estarei sempre junto de ti, aonde! Queria engoli-lo inteiro. Amo-te, meu amigo. Quero sempre esperar por ti e por tudo que entre mim e ti há de vir. Esperes tu também por mim. Minha calma, minha paciência um dia em lugar da loucura. E te amarei, e tudo de belo e simples se resumirá nisso.

domingo, 7 de março de 2010

Viagem de volta em agosto.

Sinto-me abandonada. A menina linda não está aqui, tenho medo de quando ela voltar a relação que começamos a construir tenha se perdido. Fiquei triste quando cheguei. Logo quando eu estava tendo prazer em estar aqui. Durante a viagem vim feliz, achando que voltaria para exatamente aquele mundo que deixei quando me fui. Mas para minha triste surpresa, parece que não é mais o lugar seguro e feliz em que eu me sentira tão bem. Ainda sinto que tenho meu espaço, por menor que seja, meu. Talvez um pouco de solidão seja o preço para se ter mais privacidade e silêncio e tempo só pra si mesmo. Me sinto só. Sei que talvez seja prematuro e exagerado pensar isso, mas acho que a ansiedade não me deixa parar. Senti aquele tédio que vem carregado de um depressivo espírito criativo e tentei usar para alguma coisa: desenhos. Se conseguisse fazer algo bonito, talvez me animasse. Mas nada me ajudou. Continuo até agora com um nó na garganta. Sei que não deveria me deixar afundar neste rio de desespero e medo, que me consomem. Medo de estar sozinha, e ter que esperar sempre por um dia no futuro, em que me sentirei completa e segura em todos os aspectos. Não quero pensar nisso. Quero descansar. Gostaria que ele estivesse aqui comigo. Amo-o muito. Ele é a única pessoa que, quando me sinto assim, tenho certeza: temos um ao outro e, às vezes, isso basta pra que ele me dê esperanças, me salve, me tire do rio.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quando a vida é desalento.

De repente acorda, passa das dez. Porque dormira tanto? Todos os dias as coisas se repetem. Sono demais, comida demais, drogas demais, sexo demais. A bexiga muito cheia, o corpo quer livrar-se daquelas toxinas malditas que injerira ontem à noite e nas noites anteriores e anteriores ainda. Os olhos muito inchados, sabe que ficam assim sempre que chora e depois dorme, como uma criança. As pernas têm novos hematomas. A cabeça latejante, dói. Porque fizera isto consigo mesma? Todos os dias as coisas se repetem. Problemas demais, estresse demais, tristeza demais, solidão demais. A mente cansada concede ao corpo momentos lascivos de prazer. Prazeres de cama e mesa. E engordando, enchendo-se de bebidas e comprimidos, deixando-se levar para camas desconhecidas, chorando e vomitando toda madrugada sozinha é que percebe não estar bem. Será difícil descobrir do que precisa? Todos os dias as coisas se repetem. Acorda, pensando que quer mudar. Dorme, sem conseguir pensar em nada. Sem nenhuma esperança, às vezes tem certos pensamentos. O seu preferido é que um dia não irá mais ver seus olhos inchados no espelho, sentir dor, arrepender-se ou decepcionar-se com o que fizera nas noites anteriores pois, neste dia não irá acordar.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Início das transformações.

Não foi preciso muito para que algo aparentemente pequeno tocasse uma de suas feridas, pois eram muitas. A dor que sentiu foi suficiente para deixá-la verdadeiramente deprimida e fazê-la investigar a fundo o ferimento há muito causado na mente, no corpo, mas não na alma, embora desses difíceis de sarar. Não conscientemente, as palavras que vinham à cabeça quase sempre diziam a mesma coisa: não queria mais ser quem era. Na verdade, queria ser quem era e não quem estava sendo.  Sentia pela primeira vez que não estava no lugar certo, com as pessoas certas, fazendo coisas que gostaria e se identificaria. Estava apenas vivendo sem perceber o passar dos dias.  Nunca antes tinha pensado que talvez ali não fosse o seu lugar, sempre estivera tão bem no meio dos outros, mas algo mudou naquele tempo. Nunca antes tivera uma experiência de introspecção, de observação dos próprios pensamentos, sentimentos, ações. Doía muito pensar no que sentia. Eram tantos medos, dores e fomes. Nada muito concreto, não saberia dizer exatamente o que estava errado, quais eram suas necessidades. Chorava como uma criança, soluçava, gritava. Neste momento também não havia idéias plenas, só sentia que precisava daquilo, para libertar-se, sentir-se leve. E as lágrimas deixavam o corpo levando consigo os pensamentos absolutos, as idéias prontas, os conceitos formados, aqueles mesmos que já não faziam sentido para alguém como ela, que experimentara da mais pura essência de si mesma. Depois viria a calmaria, a mente limpa conseguiria achar explicações, fundamentos para aquilo tudo que viria a ser a partir dali. Novos conceitos de personalidade, de amor, de perspectiva. Pensaria por ela mesma o que significa ter uma vida boa, um amor verdadeiro, pensaria na ética e nos valores morais. E seguiria, porque agora sim: seria ela.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O peso de uma relação morta.

Minha mente tenha lembrar do que há muito, pedi à ela que esquecesse. Queria lembrar não por saudade, mas para esclarecer e então esquecer. Lances escuros e confusos de algo que não sei o que foi. Mãos, palavras, pesadelos. Explicações sem fundamento para algo que não deveria ter explicação pelo simples fato de que nunca devesse acontecer. Tratamos daquilo como se tivesse sido só mais uma crise da relação. Mas eu sempre soube que de nada adianta insistir e tentar salvar algo que  não existe, que morreu. Se existiu, durou pouco e os laços formados foram fracos demais para resistir ao tempo, à distância e às diferenças. Éramos pessoas tão diferentes. E nem sequer respeitávamos um a natureza do outro. Nem ao menos nos conhecíamos a fundo, e confiamos um no outro, dissemos que nos amávamos. Eu já tinha sentido dores menores por causa disso, mas achava que esta relação valia à pena, estava determinada não por mim, mas por seres superiores, e até hoje acredito, apesar de tudo. Mas então no meio de tantas outras coisas. Não tive coragem de contar para quase ninguém, porque não saberia falar de algo que não sei ter sido verdade ou não. Certeza que não imaginei! Mas prefiro acreditar ter sido pesadelo, que passou. Dizem que são más as coisas que devem ser escondidas. Na época quis gritar, chorar, morrer. Mas nem  sei  se foi tão grave assim, e facilmente me livraria de outra situação como aquela, se houvesse. Mas não houve outra oportunidade infeliz daquelas, ainda bem. O que havia vezenquando eram recados malcriados dizendo você-não-liga-mais-pra-mim e depois-de-tudo-que-eu-fiz-por-você. Parecia que tinha esquecido do que fez, porque prometemos que esqueceríamos, mas eu não esqueci. Nos vimos depois daquilo e nenhum de nós tocamos no assunto, deve ter achado que eu esqueci e esta reaproximação funcionava como um perdão ou consentimento, que eu nunca queria ter dado. Porque posso ter parado de pensar naquilo por um tempo, mas não esqueci. Já passou tanto tempo. E se nunca rompi o silêncio, porque agora? Talvez nem acreditem em mim. Não quero. Mas não quero também sustentar o peso de uma relação morta, de tantos anos de decepção e cobranças, de tristezas, e o que infelizmente eu terei que levar comigo para sempre, um sempre mortal. Porque é impossível que eu me livre desta relação, ainda que morta, porque sempre insiste em tentar renascer. E  isto perturba tanto. Há um certo tipo de amor, mas um amor pisado, machucado, que não quero ter que viver, nunca mais. E isto também dói.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sonhos e poesia matam.

Deixe-a ir, está cansada dessa vida. Não está triste nem nada, só cansada. Os dias, as cores, os amores de que falavam os poetas, no seu mundo não existem, nunca existiram. Se há algo de felicidade é a sensação de na hora do sono ter a mente invadida por sonhos, belezas imaginárias, momentânea satisfação. A realidade dissipa num instante a atmosfera enganadora, que a faz ter esperança todas as noites, mas que sempre traz decepção por saber-se tola de acreditar, como criança, em sonhos. Antes do céu estar claro ou se ouvir o canto dos primeiros pássaros, a vida já acaba com a esperança criada durante aquele curto momento noturno. É preciso viver a realidade, dura, triste, feia. O corpo cansado parece prender a mente, que em nada mais consegue pensar além de querer livrar-se, voar como pássaro, borboleta, para bem longe, para lugares que só vira em sonhos. Não quer mais contentar-se a experimentar desta felicidade efêmera. Todas as noites enchendo-se de fé de ter algo belo na própria vida e desilusão ao deitar-se novamente, depois de um dia sem nenhuma semalhança com o que esperava, para deixar-se encher de outras mais emoções falsas. Não quer mais isto. Quer deixar esta vida. Deixe-a ir, deixe-a morrer, talvez a luz radiante seja melhor sonho para confortar-lhe o peito antes de em nova vida vir a decepcionar-se novamente, até que perceba a própria incapacidade de ver como os poetas, e então finalmente, veja alguma beleza: não nos sonhos desta vez, mas no seu próprio mundo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Primeiro fragmento sobre a vida.

Semente na terra à noite germina.
É a vida que insiste em nascer antes do Sol.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Atmosfera lilás, 1970, incenso, meia-luz e rock.

Totalmente sozinha no meio de gentes desinteressantes. Tão bonita nessa meia-luz que deixa bonita também a fumaça do cigarro que acende e que calmamente leva aos lábios nus. Na vitrola, o disco dos Beatles parece tocar aquela música repetidas vezes especificamente para ela. Sentada assim quase no chão, não fosse pela almofada naturalmente longe das outras, as pernas em posições tão aleatórias e harmonicamente colocadas dobradas, as mãos repousadas, o cigarro em uma delas já acumula a cinza do tempo que foi deixado de lado, muito magra, as calças jeans desbotadas, a blusa de um brechó qualquer, tudo contribui para que seja de todos a mais instigante, depressiva. E atraente. O olhar indecifrável, aos de fora não diz nada: olha para dentro. Tão bonita e triste. Uma atmosfera só dela. Não euforica e falsamente feliz como os outros. Calada, grita pedindo que alguém a salve. Mas não será salva, sabe. E como fosse a última esperança da noite de se ver salva e então livre de si mesma, toma de uma vez o que será  suficiente para estar longe dali até o fim das horas da madrugada e da manhã seguintes. A falsa sensação de liberdade vem depressa. O corpo relaxado esparrama-se agora no chão, um esboço do que seria um sorriso, o olhar não mais para dentro, agora para o mundo que se abre à sua frente, o único ao qual tem pertencido, faz tempo.

"I want you, I want you so bad. I want you, I want you so bad. It's driving me mad, it's driving me mad. She's so heavy, heavy, heavy." The Beatles

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ela quer ser perfeita.

Ela é uma pessoa que tem tudo pra ser feliz, e até é. Embora não seja a melhor das pessoas, tenta se modificar para ser cada vez melhor, ou pelo menos, diz que tenta. Quer ser mais paciente, madura, calma, consciente, interessante, mas sempre se pega gritando, chorando, reclamando, falando coisas das quais se arrepende e tendo ataques de ódio. Ainda falta muito mas está conseguindo aos poucos. Talvez ioga, noites de sono, plantinhas, chás, meditação, teatro, amor, animais, espiritismo, pessoas, livros, pudessem ajudar. Mas a verdadeira mudança sempre virá de dentro dela, não dos outros ou das coisas. É preciso mudar a si mesma, ela sabe. E está tentando.


"Você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off." Caio F.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Que me livre da concha.

Minha concha anda abalada. Tem sido abalada diariamente por aqueles olhares, aqueles pensamentos, aqueles desejos, por você. Contra ela tenho lutado. Minha sede tem sido maior, quase insaciável: sede de vida. Meu mundo, que por vezes se comprimiu agora se dilata, expande, como se eu descobrisse novamente quem eu era, antes de ter estes seus limites ao meu redor impedindo que eu crescesse, pensasse, caminhasse por mim. Mesmo que a minha visão ainda esteja turva consigo enxergar além, de dentro, por aqui. Agora, para gozar de tudo que sinto ser e querer, estou pronta para sair e com você aprender a amar, a ser, a acreditar, a mudar, a fazer e a todos os outros verbos que deixam as nossas vidas tão completas.


"Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão." Caio F.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Escrever, crescer.

Senti um impulso esses dias, senti que deveria começar a escrever. Para mim. Como meio de autoconhecimento. Sempre soube que comigo as coisas funcionam assim: eu aprendo muito de mim quando falo. Talvez eu nem volte a ler coisas que há muito tenha escrito aqui, mas já terá me servido muito o fato de ter parado para escrever, qualquer coisa, o que der vontade. Preciso de momentos mais meus, de reflexão. Porque se você não está satisfeito com o que é, tem que mudar, e não “é só querer”. É difícil, é um exercício constante de investigação pessoal. O que eu ando pensando, sentindo, necessitando? Como tenho agido? Os exercícios que no teatro me ajudavam a enxergar no meu íntimo aquelas dor e fome, me faziam bagunçar os pensamentos e questionar todas as coisas, parei de praticar. O que naquele tempo aprendi, durante apenas um ano, foi mais valioso do que talvez grande parte do conhecimento adquirido em todos os anos anteriores na minha vida. Só eu sei o quanto mudei, o quanto cresci. Não adianta conhecer as coisas sem conhecer a mim. Se fosse preciso, talvez eu não conseguisse dizer ao certo o que naquele tempo mudou em mim. Qual parte de mim despertou e qual deixou de existir. Mas o exercício do pensar, embora não traga respostas concretas, traz mudança. Acho que naquela época, com a prática de algum tipo inexato de autoconhecimento, eu não reparei o quanto mudava, só hoje posso perceber a grandeza disso tudo. Por isso, escrevo. Na esperança de conseguir entrar em contato com aquilo que eu sou outra vez. Mudar sempre e para melhor. Destruir todas as definições que o mundo me deu prontas, para construir novamente, com calma e coerência, conceitos que façam sentido para mim e para minha vida. Pois quero aproveitar ao máximo o tempo que tenho nessa vida para aprender, me modificar, crescer. Afinal é para isso que estou aqui. Enfim, espero com estas reflexões, conseguir organizar meus pensamentos, e me tornar uma pessoa mais consciente de mim mesma... e melhor.


"Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta." Caio F.

"Quanto a escrever, mais vale um cachorro vivo" Clarice Lispector