sábado, 24 de julho de 2010

Caio.

Nas tuas palavras tropeço, caio,
me perco, me acho, me reconheço.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Celibato.

Pergunte ao teu deus porque a casa da tua fé destruída, só restos, cacos infinitos, pedaços nunca re-encaixáveis. As madeiras corroídas pelas pragas, cultivadas pelas migalhas de ervas que aos domingos tu jogavas sobre teu corpo pra livrar tua natureza sofrida - sempre escrava dos pecados da tua mente e de teu corpo, que à ela se rendia. Ah, porque você sempre tentava ser alguém tão certo aos moldes deles, mas era tão falso quanto as promessas que fazia aos teus santos de madeira, os teus olhos me diziam; nas noites escondidas naquela mesma casa escura, à meia luz das velas acesas para anjos da guarda demoníacos que nos guiavam um ao outro em meio a tantas portas vazias. Era sempre a mesma história: depois de encharcar-se do teu vinho tinto de sangue divino, você queria começar. Teus olhos me olhavam e tua voz, aos meus ouvidos, dessa vez não sussurrava preces. Tu parecias com fome do alimento abençoado e comia a carne do teu cristo, que era eu. Mas logo depois do gozo, a fome se transformava em culpa e peso - que não saía dos teus ombros até o dia das confissões inacabáveis, das orações eternas, dos jejuns infinitos, dos choros desesperados na frente do mar, que não levava as mágoas Iemanjá, porque tu não acreditas nela, só tua virgem santa. Queria ser sempre o pecado que te condena a queimar por dentro eternamente. E que sacode o teu espírito santo cansado de estar preso. Mas se não queres assim, se o meu amor tu ofereces em sacrifício, te digo que viverás a pior das penitências: assistir meu corpo ser livre nos braços de outros que entendem e sabem desta minha natureza que não é mesmo santa... e que não quer ser casta.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vermelho, sangue.

Andou em despedida sem olhar para trás e os cabelos voaram, quiseram ficar. Mas se as mãos não beijaria mais. A noite calma, à meia-luz, mas tudo claro. As palavras foram ditas na sua frente, o futuro morrera na sua mente. Desde quando procurava água, se perdeu. Últimas lágrimas sinceras. O destino muito bem determinado. Ar seco e limpo de verão. Pianos lentos, como sentia. Árvores sem folhas, galhos, inférteis vidas. Caminhos de volta nunca tão longos. Demônios esperando em casa. Seu vermelho preferido pingando por três horas se-gui-das.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Infância.

Fica horas inteiras sem entediar-se olhando plantas bem cuidadas, cenários de suas histórias. Vê tartarugas desnutridas, formigas mortas e caracóis perdidos e chora, porque tudo parece tão triste, o sofrimento daquela criatura esfomeada é dela, que esquecera de alimentar o animal. As flores amarelas caídas na calçada dão um ar de graça, aqui o tempo passa muito devagar. Os gatos esparramados e preguiçosos, ela ri, ama aquelas criaturas. O Sol das dez da manhã queima de leve o corpo desajeitado e quase nú, e cega os olhos que ela aperta bem até chegar à buganville crescida entre o muro e a garagem, onde pode enxergar tudo muito bem, à sombra devassada por apenas uns raios luminosos, que com os braços estendidos pintam a pele de bolinhas. Quando olha assim pra cima, o teto de flores cor-de-rosa é coisa mais linda que já viu, sente coisas que não conseguiria explicar nem depois de muitos anos, quando isto seria apenas mais uma lembrança confusa, não sabendo se realidade, sonho, imaginação. Fato é que agora, ela sente que está mais próxima do azul muito alto do céu, os feixes de luz que chegam até seu corpo por entre pétalas e folhas a deixam leve, como se dormisse, mas está acordada e muito sã. Então levanta devagar os braços, não sabe por que, mas sente o ar que envolve o seu corpo, parece muito pesado, acha engraçado, mas não ri. Sente que pode tirar do chão também as pernas, uma depois a outra. Não entende se seus movimentos é que estão lentos, se o tempo está passando mais devagar ou o peso da matéria ou qualquer outra grandeza das leis da física que mudou ao seu redor, mas sabe que muito lentamente agora, sues pés não tocam o chão e os braços esticados equilibram o pequeno corpo, que flutua. Os raios de Sol envolvem todo o seu entorno e parecem poder penetrar a pele, porque se sente quente por dentro, adrenalina contida de criança, sorri, calma, sente o éter. Paira um pouco sobre o ar, sente-se leve sob este mar de atmosferas sobrepostas onde tudo é devagar. E parece que tudo é sonho, talvez por isto as dúvidas posteriores. A mistura do pensar e do agir, a imaginação e a realidade indissociáveis mais. A loucura, a leveza: presentes para sempre, até os dias de agora.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje não.


Quero um café e um cigarro, me esquece.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Segredos.

O vento leva e traz meus cabelos e sei que é triste porque chora aos meus ouvidos. A luz antes brilhante me guiava, agora, opaca confunde. Me perdi em algum momento dos caminhos do Pai e tento me achar nos caminhos da Mãe. As raízes que deveriam prender-me são fracas, tudo o que aprendi até agora me é inútil. Me diz coisas tão tristes à medida que as minhas lágrimas descem lavando meu corpo, choro para fora, de dentro. Os poucos raios de Sol que furam as copas das árvores e chegam até meu rosto que continua imóvel, calmo e triste, não são suficientes para me iluminar agora. Uma hora é preciso sair de dentro de si e ver como é que se vive. Tudo muito devagar, meu corpo não responde mais tão bem. Sofri. Só a mente é rápida, pensamentos na velocidade do pulsar da terra debaixo dos meus pés. Fluxos energéticos como pregos furando minh'alma. Porquês infinitos na mente. Louca, insana, perdeu-se onde deveria se encontrar. Julgamentos eternos vou ter de passar, que o agora me faz querer a morte; e a morte tem dessas coisas.

domingo, 18 de julho de 2010

não da última vez

me beija please please please tira devagar minha saia com seu jeito de cara de todos os lugares do mundo e de nenhum que já fez isso no alabama e nos andes mas não ligue se as cores brilhantes que você viu não se repetem hoje aqui é porque as coisas são diferentes mesmo essa é a idéia você pode até se acostumar com meu cheiro de erva e de interior porque se faz mais de mês já reconheço tua pele no meio de outras que também tenho prazer em tocar mesmo na sua frente e te olhar pensando em dormir com você daqui a pouco e dançar na luz vermelha que lembra minha infância de desejos trancados no banheiro e agora que eu vivo me sinto e sei que todo o meu corpo também pensa que nessa noite não eu não vou deixar de ser feliz e insana porque não é toda noite que ouço Janis e tem tanta gente bonita em volta e aquele cara tá me olhando tão de perto e é tão bonito e eu sinto tanto tesão e quando olho pro céu que mostra a lua crescente minha perferida percebo que o tempo é agora e me sinto livre pra correr pra perto rir de dentro viver pra frente e se te olho dá um arrepio e penso em ir correndo e beijar a sua boca e repetir você é lindo demais porque é verdade e te trazer aqui pra dentro pra me ouvir dizer pra você como foi que eu esperei tanto tempo pra falar com essa voz louca me come querido porque é isso que eu quero que você faça vai fundo e então ouço o que você me diz e viro e faço o que você pediu porque é assim que eu gosto também acho que eu te disse parece que a gente é bicho tudo tão apertado e bonito e real e eu tenho vontade de gritar porque parece que você entende o que é viver o momento de sentir tua carne entrando na minha e que é de verdade não é sonho e eu gosto tanto de me sentir e te sentir e se eu não estivesse tão bêbada talvez eu sentisse meus movimentos mais sincronizados com os meus pensamentos que deslizam de leve o meu corpo sobre o seu e eu rio tanto porque é isso e eu não consigo dizer se é só amor sexo ou paixão e não importa porque depois dos sonhos penso em fazer tudo de novo porque você é tão legal e eu tô gostando tanto tanto tanto de você e porque eu sou mesmo meio insaciável e adoro essa coisa de dormir junto e sem querer começar mais uma vez a te provocar e não ligar ao depois ver que todo mundo estava olhando e dessa vez sim eu era uma louca despreocupada e talvez irresponsável e só porque eu tava era vivendo o que eu queria

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não sobreviva.

Um corpo humano demais, um gosto amargo de tão azul por dentro. Feio, porque não acredita na beleza. Chore de uma vez e me mostre o que esconderam em você. Não seja medíocre.  Não seja medíocre. Não seja medíocre. Não. Tenho que me lembrar disso todos os dias. E viver um velho amor, um grande amor ou um novo. Não estou te pedindo nada, mas me deixe só, quero ficar só, chorar só, morrer talvez. Depois de um dia inteiro sem luz, sem música, sem rir. Os dias seguintes não, chega de dias mortos. Vive hoje então. Mas o seu corpo ainda assim não tomou forma. Conhece os outros, pelamordedeus. Beija tua menina e vai. Ninguém vai te dizer como agir, o que sentir. Seja forte, vai doer. Tudo o que eu queria era sentir de novo dor. É de amor que choro agora, é da dor que rio. Dói muito viver. Existe vida, meu menino.