segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vontade & vício.

Se até nem as coisas podem existir somente em si,
Não vou ignorar que minha vontade é o vício de ti.
O amor não nasce nem se encerra em mim!
Tudo que é leve e graça o tempo leva sim...
Mas teu peso fica como um mar de sentido amplo,
Atmosfera em que cego me lanço,
Morrendo de medo e de vontade:
Você, meu vício.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eu, como sempre.

Quando movimento assim os dedos na ânsia de me satisfazer - porque aparentemente é só isso o que eu quero - em palavras nessa superfície tão desde sempre conhecida e devassada por cores vivas, o sopro pára e espera só a ação que não é dele, de colocar em superlativo ar no pulmão, que se abre mas não inteiro - que a mediocridade atinge também aos orgãos internos - e quando respiro inspiro expiro vejo tudo ficar claro, numa tontura que faz girar o olhar aos quatro horizontes. Percebo então que tudo o que eu escrevi é nada além de explicitamente eu, mas disfarçado, nada de sincera verdade, é atitude visceral do que eu queria ser mas só sou por dentro do que em mim fala mais alto: essa minha mente que na maior parte do tempo só pensa e só sabe falar de si, por ser tão vazia de outras dimensões - do real, do mundo, dos outros, do nada. O impulso ainda vem, então continuo: sabendo que as palavras são tão frias e em todos os aspectos iguais ao meu próprio rosto, são imagem, é o que se mostra e esconde tanto. E que do mesmo modo que quando ando, minto minha natureza simples, parecendo coisa vivida, porque o complexo é tão mais instigante. Recrio a mim mesma de jeitos que atraiam mais olhares atentos, e funciona, mas o que eu queria ver agora era a morte de todos os personagens, sem exceção. Porque o sentimento de angústia não pára, por não conseguir dizer a verdade, por mais que eu admita a invenção. Tudo sempre foi sincero, o que não me deixa ser é esse eu que grita o tempo todo no meu peito e que permito falar mais alto, porque sempre foi assim - isto também pode ser uma pergunta - e nunca me vi no espelho, nem nunca voz nenhuma veio me abrir os olhos e fazer ver o que tão claramente repudio agora: que além da vaidade, a realidade d'eu em mim mesma é insuportável.

sábado, 20 de novembro de 2010

Se forma efêmera não há fato.

Fecha a boca, não diz mais nada, que tua palavra vai negar a minha forma. Se estanco no grito teu pulsar veneno a me olhar nos olhos querendo ver mais fundo e transformar-me em nada mais palpável que a coisa por ti inteligível, te calo sim neste instante, que eu não quero ser encaixada nos livros da tua estante, sim ser firme incógnita, sem ser imposta, ser maldeus. Se o meu cigarro tá na mão que me mata o gosto, o verbo, o ato e a forma, levo à boca com a consciência calada do que certamente será a minha natureza em breve porque só à mudança dicotómica da vida me permito. O contido nas gotas suspensas do teu éter que não é líquido, que não é sólido, embora queira e tente não desmancha minha forma concreta, dele foge fugaz. O muro não cai, nem cresce, a vida não flui, e esquece, tudo passa entre nós e vai, nunca haverá lembrança desse tempo das aves que vem confortar o peito trazendo a imagem sonora daquilo que não se vê quando preso em revolução dos pensamentos: a luz do dia clarear este lugar que é tão belo e é perigo a dor de se ver sem os dias de pó desse barro daqui - e nos vemos. Por isso dói, que eu me veja a querer me portar como coisa sólida que vê e vive e saber que se espalham por sua natureza atroz a ambição e a indelicadeza de prever a minha forma e querer que eu seja nuvem a qualquer custo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Análise humana.

Como eu posso melhorar esse vazio? Quadras curtas não vão ajudar esses quarteirões internos, sempre vazios à noite, desertos.  Não querem entrar, pedi imposto caro demais: se dar sempre é risco, que ninguém quer ter que correr. Risco maior de se envolver e se perder, então não saber voltar. Então não querer voltar. Se perde em mim, me acha. É um labirinto o que fiz aqui? Um caminho que ofusca os olhos com a luz do túnel, mas que não leva nunca ao fim. E se sua deriva me explora por todos os pontos, sinto que permeia entre mais que arranha-céus, que em vista panoramicamente elevada me vê a malha que confunde, que reprime, que exprime o que eu sou por dentro: organicamente anti-natural, naturalmente não-humana, perfeitamente anti-social - de grandes percursos, caminhos marcados e pontos de convergência únicos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

agradeci ment ira

Talvez merecesse também, por tudo o que hoje sou:
corpo destruído,
alma despedaçada,
moral inexistente.
Que o que restava em mim de segredo tu me fizeste gritar bem alto, enquanto tuas mãos devassavam
minhas vestes,
meus limites,
minha calma.
E se um dia só resolvi partir - pra longe ainda lembrar, que esquecer não posso - eu o faço:
com tua sombra no meu passo,
teu peso no meu ombro,
no meu rosto o teu cansaço
- da tristeza da perda que é também minha, porque
a voz eu calo,
o grito eu sopro,
o amor engasgo.
Que agora o que me guia não é mais nada que importe
a palavra falada,
a música composta,
o silêncio entre as notas.
Porque a dor chegou depois, à noite, e não foi nunca embora.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Falar em formas.

Quero dizer as palavras certas, mais do que isso: eu preciso, se é que posso, dizê-las assim e sentí-las saindo da boca com propriedade suficiente a saber o quanto se assemelham a uma ou outra forma circunscrita em infinitas outras, ou entrelaçadas, lineares ou não, duas dimensões ou mais, mas menos do que aquilo que a minha mente pequena não consegue conceber, que são ou não uma e outra e que trazem conforto por serem macias de ouvir ou porque o saber é preciso - e é uma ilusão, ou é que somos pequenos demais pra ficarmos no silêncio, sozinhos com o que há em nós e incomoda tanto, e é vulgar. É esse o ponto na fenda do espaço-tempo que eu não diria ser partida, mas de parada, quando é preciso parar, porque uma hora é preciso, mas essa necessidade, eu digo que surgiu bem antes.