sexta-feira, 23 de julho de 2010

Celibato.

Pergunte ao teu deus porque a casa da tua fé destruída, só restos, cacos infinitos, pedaços nunca re-encaixáveis. As madeiras corroídas pelas pragas, cultivadas pelas migalhas de ervas que aos domingos tu jogavas sobre teu corpo pra livrar tua natureza sofrida - sempre escrava dos pecados da tua mente e de teu corpo, que à ela se rendia. Ah, porque você sempre tentava ser alguém tão certo aos moldes deles, mas era tão falso quanto as promessas que fazia aos teus santos de madeira, os teus olhos me diziam; nas noites escondidas naquela mesma casa escura, à meia luz das velas acesas para anjos da guarda demoníacos que nos guiavam um ao outro em meio a tantas portas vazias. Era sempre a mesma história: depois de encharcar-se do teu vinho tinto de sangue divino, você queria começar. Teus olhos me olhavam e tua voz, aos meus ouvidos, dessa vez não sussurrava preces. Tu parecias com fome do alimento abençoado e comia a carne do teu cristo, que era eu. Mas logo depois do gozo, a fome se transformava em culpa e peso - que não saía dos teus ombros até o dia das confissões inacabáveis, das orações eternas, dos jejuns infinitos, dos choros desesperados na frente do mar, que não levava as mágoas Iemanjá, porque tu não acreditas nela, só tua virgem santa. Queria ser sempre o pecado que te condena a queimar por dentro eternamente. E que sacode o teu espírito santo cansado de estar preso. Mas se não queres assim, se o meu amor tu ofereces em sacrifício, te digo que viverás a pior das penitências: assistir meu corpo ser livre nos braços de outros que entendem e sabem desta minha natureza que não é mesmo santa... e que não quer ser casta.

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