Dormia imaginando o dia em que seríamos só nós três. Nossas bocas pediam aos céus pelo mesmo homem e teu choro lamentava por aquilo que eu já tinha: o amor dele, que eu dividiria contigo, porque a ti também eu amava. E ele também, tenho certeza, mas naquele tempo as teorias inventadas, o certo e o errado, as ideologias, ainda eram muito fortes e por isso ele não nos quis todos juntos. Negava sempre com palavras, mas só para mim se entregava com a mesma boca que as dizia. Mas ele nunca aceitaria dividir o meu amor contigo, porque o que eu representava para ele era sagrado demais, ainda que insistíssemos que assim como aquelas idéias, essa noção do sagrado também havia sido inventada. Porque tu me disseste, e eu acreditei, que Deus era energia, era sexo, era liberdade, era paixão. E isso era tudo o que nós dois queríamos a três. Depois das tardes em que tu me seduzias, nas noites eu não tinha paz. Eram cheias de sonhos loucos, vermelhos, quentes. Tudo de terra e fogo. E me sentia viva, sentia prazer, sentia. E queria que todo esse prazer fosse causado por vocês juntos, meus homens. Imaginava nossos corpos juntos na mesma intenção, apertados um contra os outros. Um círculo, um ciclo, que nunca seria possível a dois, nem sós. E com as minhas mãos no meu corpo eu imaginava as tuas, mais magras e mais fortes, as dele. E nossas mãos me tocavam, tocavam fundo. E me sentia mulher, me sentia feliz, nunca em paz. Mas paz haveria quando estivéssemos juntos. Nunca houve paz. E ainda hoje eu durmo imaginando o dia em que seremos nós três.
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