terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ele espera.

E o tempo preso no espaço pleno.
Diligente, tem de o futuro prover.
Impotente, dependente, inquieto.
Que hoje, eu não tenho pressa...

domingo, 26 de setembro de 2010

Despeço.

Aspergi perfume em tua face. E com a face plena e perfumada então, me tu deixaste. Queria por uma última vez te vestir antes dos bailes - e te despir depois. Mas agora não seria meu o teu pensamento, porque nunca foram meus os teus passos nem giros, mas de todas as outras, sim, porque a minha dança era outra, muito mais livre, e tu não sabias ser assim. Naquelas noites, os teus olhos cegos pelo brilho das saias mal podiam ver que eu era das cores e não dos brilhos, das tardes e das manhãs, pouco das noites. Meus cheiros de hortelã viva, não perfume de boutique. Mas tudo que é fácil de se ver quando está longe, é invisível aos olhos de quem está perto. Nosso mundo ia acabar e eu há muito tinha a certeza de que por nós ninguém lamentaria. Duas vidas tão diferentes colocadas lado a lado, mas que nunca se completaram. Um caso bonito e tudo, mas acabado, porque todos merecem, todos querem algum tipo de algo que eu tentando achar resposta resolvi chamar de emoção, ou impulso do inesperado. Eu te ensinei que a vida corre nas minhas veias enquanto as vozes passam na tua caixa de madeira, e o teu sono vem como que de propósito concordar. Sentimos, ou deveríamos. Eu escrevi pequeno com giz pra que tu lesses de perto, a verdade assim: um futuro incerto. Fica sem mim, sem medo. E logo tu tornas a sorrir, que as belas donas de tuas noites não vão te deixar chorar por mim. Depois seríamos, de longe agora, como de sempre: tua fumaça dos cigarros, minha fumaça dos incensos e nossas luzes apagadas, em silêncio.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Suspenso.

E o tempo, que não passa?
O sono que não chega.
O amor que não basta.

Tudo parado: lá fora e aqui dentro.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Renuncia.

Passe logo, tempo:
A juventude é nada.

domingo, 12 de setembro de 2010

O verbo, palavra.

Queria ter o verbo livre como o pensamento. Que sem ter medo de julgamentos próprios se faz senhor da sua razão. Que tem seus próprios sentidos ocultos e que não se censura ao sentir-se (in)certo. Meu verbo é subjetivo, subjacente, subjugado, subentendido. Há o aperto, que as idéias presas fazem pressão contra a minha carne, querem sair, eu quero que saiam, mas. O sangue lateja na cabeça, sobe de uma vez, quente. A minha voz não vomita, engasga com as palavras e elas fogem pra longe, o mais dentro possível, logo quando poderiam ir. A cabeça gira, pesada e quase cai de tontura, da não-lucidez. Queria falar dessas coisas ao menos uma vez e sentir que liberdade vem do que eu posso me fazer ser. Disso eu sei, sei pouco do resto, dos jeitos, dos métodos. Sei do que quero: me fazer ouvir, me livrar dos dias de antes, das coisas feridas do passado que ainda dói, e tantas outras que já não me fazem parte do que eu presumo que seja eu. Falar de tudo que há de mais essencial, me mostrar nú, não ter mais medo. O meu corpo, parece não ser instrumento certo, que não obedece ao pensamento mais: ele quer ser todo verbo! Mas ele não se faz, é incapaz; de admitir querer pensar, e então ser.

sábado, 11 de setembro de 2010

Mudar.

Saia desse casulo que te molda
Pra que tu tomes a mesma forma
Que era antes e antes e que será depois
O mesmo, o igual, o molde.

Então tome alguma atitude
Que se tu não buscas informação
Não vê a luz de mudar de opinião.

Faça hoje por você, se há de começar assim
Pra depois pensar em outro alguém, e em mim.
Que se não for assim, que sentido faz?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eu que, que.

que me sinto livre, mesmo com tantas dúvidas, sei.
que posso voar, com o pensamento.
que o amor aquece, alimenta, sinto:
que isto não basta.

e começam neste ponto: a dor e a dúvida.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O aqui-agora.

Nem vi o céu de estrelas, que depois de quarenta dias foi que o tempo decidiu chover e cobrir o brilho que  eu pretendia ver. Os dias curtos, sol chegando quando já passa das oito e nem se vê direito, que antes das seis já se foi. Queria dizer também: clareia de vez. Onde está a luz que eu preciso? Falsa promessa de me alumiar. A lua também coberta, crescente como na última vez, mas hoje não vejo. E olhando pra cima, há tanta saudade no peito: da família da roça, das raízes do norte, do calor dos abraços. Da família, da roça, das raízes, do norte, do calor, dos abraços. E aqui-agora me veio uma lembrança dum quê de simples e de bom, de algo que eu não via, mas que tava era dentro de mim mesmo. Como é que a gente passa a vida inteira sem saber dizer o que é importante? Sem saber do valor das coisas que sempre estiveram ao nosso redor, é música, é gesto, é sentimento. Sem sentir que pertence a um lugar, e que dele você se afasta devagar, cada dia mais, ao passo que ele deixa de existir. Se você sentisse, saberia que ali você pretendia ficar. E você fica sem sentir tudo, sem sentir, nada. E quer acreditar que as coisas sempre estiveram no seu lugar. Mas o tempo passa, e o que sempre a gente teve, a gente não vai ter pra sempre. É que o mundo hoje tenta me levar pr'outro lugar, tentam dizer como vai ser até o fim. Percebo, agora, que eu não preciso disso. Tentar lembrar, pensar no que mudou. Se mudo em ato, sem pensamento, quero que em tudo, dê pra voltar. Voltar pro que eu sabia ser, porque sentia, sem saber. Como se esquece assim do seu próprio ser? Mesmo sem luz, o aqui-agora me lembrou de um dia que eu sentia, que eu sabia, que era bom viver.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Doentemente.

Não se encaixa nem nas patologias:
Se louca do corpo ou doente da mente,
Os laudos nunca são precisos.

As forças que agem no seu mundo
Têm leis independentes.

Não se permite à loucura simples,
De vestes brancas e tarjas pretas.

Loucura cálida, incompreende
Que o frio força a ser profundo.

Insiste num mundo insano
E à noite, em claro, só vê o escuro.