Quando movimento assim os dedos na ânsia de me satisfazer - porque aparentemente é só isso o que eu quero - em palavras nessa superfície tão desde sempre conhecida e devassada por cores vivas, o sopro pára e espera só a ação que não é dele, de colocar em superlativo ar no pulmão, que se abre mas não inteiro - que a mediocridade atinge também aos orgãos internos - e quando respiro inspiro expiro vejo tudo ficar claro, numa tontura que faz girar o olhar aos quatro horizontes. Percebo então que tudo o que eu escrevi é nada além de explicitamente eu, mas disfarçado, nada de sincera verdade, é atitude visceral do que eu queria ser mas só sou por dentro do que em mim fala mais alto: essa minha mente que na maior parte do tempo só pensa e só sabe falar de si, por ser tão vazia de outras dimensões - do real, do mundo, dos outros, do nada. O impulso ainda vem, então continuo: sabendo que as palavras são tão frias e em todos os aspectos iguais ao meu próprio rosto, são imagem, é o que se mostra e esconde tanto. E que do mesmo modo que quando ando, minto minha natureza simples, parecendo coisa vivida, porque o complexo é tão mais instigante. Recrio a mim mesma de jeitos que atraiam mais olhares atentos, e funciona, mas o que eu queria ver agora era a morte de todos os personagens, sem exceção. Porque o sentimento de angústia não pára, por não conseguir dizer a verdade, por mais que eu admita a invenção. Tudo sempre foi sincero, o que não me deixa ser é esse eu que grita o tempo todo no meu peito e que permito falar mais alto, porque sempre foi assim - isto também pode ser uma pergunta - e nunca me vi no espelho, nem nunca voz nenhuma veio me abrir os olhos e fazer ver o que tão claramente repudio agora: que além da vaidade, a realidade d'eu em mim mesma é insuportável.
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