quinta-feira, 29 de abril de 2010

Catarse.

Gosto de olhar as pessoas. Fico imaginando seus problemas, suas carências, suas ausências, suas dores. Essas pessoas se preocupam com coisas importantes, como descobrir coisas em si, crescer, ser melhor, sempre tendo alguma coisa para falar. É difícil falar, nunca sei o que dizer, tenho que pensar muito, tentar encarar coisas minhas como problemas, que devem ser eliminados. Sempre choro, porque dói muito tentar me entender e me ver assim. Às vezes fico em silêncio, me perguntando o que eu estou fazendo aqui? Terapia? Podia ser através das artes minhas e assim seria mais eu e menos os outros. Mas penso que embora seja difícil, preciso continuar falando, porque me disseram que eu deveria me tratar, estou tentando. Porque me convenceram de que não é normal querer amar mais de um alguém, nem querer estar deprimida e chorar tardes e noites inteiras pensando nas tristezas e injustiças e contradições do mundo e minhas ou em nada, nem imaginar que no momento que fechei os olhos o dia passou e eu fiquei parada e quando abri os olhos já era um novo dia e eu ainda estava ali, nem sentir alguma coisa mas não conseguir falar sobre ela, nenhuma dessas coisas há de ser normal. Então eu preciso falar, esgotar as idéias na minha mente, extirpá-las. E quando eu consigo falar, vejo as coisas ficando muito claras, tudo limpo, tudo certo demais. E no meio dessa ordem, começa a haver um tipo estranho de equilíbrio, uma coisa estática, e me vejo perder a capacidade de usar aquele antigo caos interno para algo criativo e mais parecido comigo. Toda essa ordem não parece comigo, a não ser um eu morto. O que será das minhas artes? Se não houver dúvidas mais, se houver muitas certezas, se tudo for branco e simples ao invés de um turbilhão de coisas confusas vindo ao mesmo tempo à mente? Sem criar, eu serei nada. Sem a arte eu me transformo em uma casca vazia de alguém que há muito teve a mente cheia de cores, idéias, sentimentos, dúvidas e que agora tem apenas certezas demais.

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