domingo, 27 de fevereiro de 2011

Rendição

aos teus pés, de joelhos, porque me submeto à tua que é a minha vontade e te cosumo o grito gemido, o peito suado, seu amor e o sentido do corpo cansado, o movimento incessante, o gozo espremido estendido espirrado, entre o espaço que resta do sopro do ar ao meu olho fechado querendo não ver o mundo de fora neste estado de pulsar interno enquanto eu sinto o tempo parado, o momento de ser pleno um homem rendido, ou menino assustado.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

alem

Somos ainda um ser só unido de dois dos que somam três. A brisa passando indo vindo quando do ventre sai o meu pequeno que eu vou com amor fazer vingar. Se tu dizes que é verdade a vontade, eu ouço a minha própria voz, que é certa sem saber e diz sim à vida! à fome! à causa! Me nego a expelir o futuro fruto pelo lugar onde amor se fez. Se for problema é que não sabe-se mais andar pelas linhas do tempo não morto, pelos caminhos do mais puro gosto do sobreviver de pouco mais que a fome do corpo. Mais do que no lugar da escolha o saber me mostra o além, que o homem comum não pretende aos vinte. Do acaso pelo qual eu me guio e agora desvio me colocando no caminho não-reto certo, vejo nunca luz ao horizonte, por isto a infinita busca, para sempre a mesma angustia, caos que sacia e se amplia a cada dia, do nada saber e sempre procurar não respostas pra tudo, mas vontade do mundo, fome das coisas mais vivas que eu, do mistério criar o sentir, dar à vida-penumbra o meu menino, que a luz leva pelo caminho que de tão simples ver claro não se espera o profundo superar dos abismos do medo da fala e do peso da pausa.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Brilho morto

Há verdadeiros vagalumes que voam vivos
Mas quando não os vejo procuro brilho
Nos vagalumes em chamas saídos da fogueira quente
Nos vagalumes frios longínquos do céu de noite escura
Mas estes têm brilhos e não vivem.

Serendipidade

forma especial de criatividade que alia perseverança inteligência e senso de observação e se dá pela habilidade de descobrir coisas por acaso.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Criação

Instigam-se idéias que não repousam
recriam-se em trocas equivalentes
passam de uma pra outra mente
voltam com vistas de sentido novo:

Formar minha e tua arte pura da mistura das infinitas partes!

A arte da mistura pura das partes.
A parte pura da mistura das artes.

Sabor

Me mostra de novo o gosto doce da tua baba, que me faz temer cair de tontura, minha cabeça é peso e o meu corpo é pluma, e se entrega àquilo que tu me ensinas ser beijo, eu aprendo contigo e até a razão se torna desejo, de aprender ainda um gosto mais forte, oculto na pele do teu corpo contínuo,  escondido por pêlos, tremendo de querer, sem pausas, sem fôlego,  ver o meu corpo que sem pudor também se mostra inteiro ao dizer o sim que o falar não compreende. É coisa mais viva o que a gente sente, saber o sabor na ponta da língua quente. Mostro minha forma e te tiro as palavras enquanto também me falta o ar. Me entrego à força do abraço que te proibi de me dar mas agora quero sempre, girar modificando o tempo. Quero mais e mais do gosto e do cheiro do fluxo da minha essência e do teu líquido puro que se misturam no momento em que estamos sendo amor pra gerar o que queremos ver crescendo e continuar com as vidas de agora, mas de nunca antes, que não se páram nem perdem, o desperdício é pensar em se. Quero o saber do nós que existe em mim e que sem pudor se satisfaz em si. Somos de um tempo de não saber  existir depois, agora eu sei.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sinto que

meus ouvidos estão entupidos
das palavras que ouço, das mentiras que escuto,
meu peito está cheio
do ódio que sinto, das lágrimas que enxugo,
meus olhos estão secos
do vento que uiva, do ar que passa,
meu pulmão é vazio
de tudo que sopra, da coisa que inspira,
meu ser está morto
das velhas vontades, das verdades que engulo,
minha boca está certa
das linguagens tão retas, dos sintomas mais nulos,
minha mente lateja
as idéias que creio, os medos que crio,
minha pele está seca
dessa água que bebes, dessa tua saliva,
minha boca tem sede
deste teu órgão rijo, desse teu sabor puro,
meu ventre tem vida
a criança indevida, esse filho maduro,
minha mente lamenta
as loucuras que vivo, inconseqüencias que fujo,

a realidade é plena ilusão dos sentidos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não grito.

Respirar teu sopro antinatural que agora me faz bem, mal, por querer uma natureza de pensar e ser além dos meios, mas a síntese do meu sentir é medo, ou pudor - dos quais abro mão, mais do segundo que do primeiro: mira que as pernas tremem, a paz no corpo que se sacia, mas nunca se basta, há ainda a tentativa do reorgasmo após o gozo, do grito calado rasgado, do torpor do segundo que antecede o segundo esporro, quando os cabelos caem, os braços doem, os fantasmas saem, e ainda que amaciando a carne e o peito, reverbera a última emoção como no começo, mas logo é fim: que se olho em teus olhos há nuvens negras, há mares fundos, há beijos secos, refletidos pelo que há desse seu sincero úmido, o que esperava me dizer ser, mas a superfície de mim é infinita chada, que se estende ao longe, extensa e rasa não muito desliza, preocupada em não tocar a linha onde o céu encontra, é horizonte - esse limite intransponível do lugar donde se ouvem verdades, quase sempre ofensas; não que eu quisesse mentiras, antes de ti eu queria o silêncio, que  para mim é fácil, mas é que há algum tempo eu não me suporto, e hoje por isso, eu queria o grito: mas como sempre covarde, respiro e calo.