quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sinto que

meus ouvidos estão entupidos
das palavras que ouço, das mentiras que escuto,
meu peito está cheio
do ódio que sinto, das lágrimas que enxugo,
meus olhos estão secos
do vento que uiva, do ar que passa,
meu pulmão é vazio
de tudo que sopra, da coisa que inspira,
meu ser está morto
das velhas vontades, das verdades que engulo,
minha boca está certa
das linguagens tão retas, dos sintomas mais nulos,
minha mente lateja
as idéias que creio, os medos que crio,
minha pele está seca
dessa água que bebes, dessa tua saliva,
minha boca tem sede
deste teu órgão rijo, desse teu sabor puro,
meu ventre tem vida
a criança indevida, esse filho maduro,
minha mente lamenta
as loucuras que vivo, inconseqüencias que fujo,

a realidade é plena ilusão dos sentidos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não grito.

Respirar teu sopro antinatural que agora me faz bem, mal, por querer uma natureza de pensar e ser além dos meios, mas a síntese do meu sentir é medo, ou pudor - dos quais abro mão, mais do segundo que do primeiro: mira que as pernas tremem, a paz no corpo que se sacia, mas nunca se basta, há ainda a tentativa do reorgasmo após o gozo, do grito calado rasgado, do torpor do segundo que antecede o segundo esporro, quando os cabelos caem, os braços doem, os fantasmas saem, e ainda que amaciando a carne e o peito, reverbera a última emoção como no começo, mas logo é fim: que se olho em teus olhos há nuvens negras, há mares fundos, há beijos secos, refletidos pelo que há desse seu sincero úmido, o que esperava me dizer ser, mas a superfície de mim é infinita chada, que se estende ao longe, extensa e rasa não muito desliza, preocupada em não tocar a linha onde o céu encontra, é horizonte - esse limite intransponível do lugar donde se ouvem verdades, quase sempre ofensas; não que eu quisesse mentiras, antes de ti eu queria o silêncio, que  para mim é fácil, mas é que há algum tempo eu não me suporto, e hoje por isso, eu queria o grito: mas como sempre covarde, respiro e calo.