Totalmente sozinha no meio de gentes desinteressantes. Tão bonita nessa meia-luz que deixa bonita também a fumaça do cigarro que acende e que calmamente leva aos lábios nus. Na vitrola, o disco dos Beatles parece tocar aquela música repetidas vezes especificamente para ela. Sentada assim quase no chão, não fosse pela almofada naturalmente longe das outras, as pernas em posições tão aleatórias e harmonicamente colocadas dobradas, as mãos repousadas, o cigarro em uma delas já acumula a cinza do tempo que foi deixado de lado, muito magra, as calças jeans desbotadas, a blusa de um brechó qualquer, tudo contribui para que seja de todos a mais instigante, depressiva. E atraente. O olhar indecifrável, aos de fora não diz nada: olha para dentro. Tão bonita e triste. Uma atmosfera só dela. Não euforica e falsamente feliz como os outros. Calada, grita pedindo que alguém a salve. Mas não será salva, sabe. E como fosse a última esperança da noite de se ver salva e então livre de si mesma, toma de uma vez o que será suficiente para estar longe dali até o fim das horas da madrugada e da manhã seguintes. A falsa sensação de liberdade vem depressa. O corpo relaxado esparrama-se agora no chão, um esboço do que seria um sorriso, o olhar não mais para dentro, agora para o mundo que se abre à sua frente, o único ao qual tem pertencido, faz tempo.
"I want you, I want you so bad. I want you, I want you so bad. It's driving me mad, it's driving me mad. She's so heavy, heavy, heavy." The Beatles
Por mim, é seu "escrito" mais interessante até então. Mesmo assim, os outros estão cheios de... Vida? Bem, há vida dentro desse turbilhão de coisas. Definitivamente.
ResponderExcluirTambém é o que eu mais gosto!
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